Muito ouvi falar quando estava
grávida: “quando nasce um bebê, nasce uma mãe...”;“é o
verdadeiro amor incondicional...”; “é maravilhoso ter um
filho...”; blá blá blá...
Não se iludam, minhas
queridas.
Quando nasce um bebê, as
cores da vida mudam de tonalidade.
As ruas, embora continuem as
mesmas de antes, se transformam em caminhos desconhecidos e incertos.
Já não sabemos se estamos acordadas ou se estamos dormindo, como em
um sonho interminável. Os músculos, cansados e por vezes
incansáveis, atingem seu ápice de existência, a fim de que fique
bem claro que somos meros mortais. O surgimento de uma nova vida
requer mais VIDA.
Ninguém, mas ninguém comenta
os detalhes dessa nova fase. Apenas ouvimos: “é cansativo, mas
recompensador”. E pesquisas apontam que 90% das mulheres mentem
quando dizem que está tudo bem nos primeiros meses, quando na
verdade não está. Por mais que se leia milhões de livros, se faça
milhões de cursos, apenas milhões de práticas é que vão te dar
alguma segurança.
O Gabriel veio assim, sem hora
marcada, às 2h30min do dia 16.05.2014, após a minha chegada às
23h30min no hospital, sem qualquer glamour (a bolsa já havia
estourado em casa e estava literalmente com uma toalha enrolada nas
pernas). Sem cabeleireiro, sem maquiagem e sem filmagem hollywoodiana
o guri veio ao mundo de parto normal, pesando 3.400gr e medindo
50,5cm.
Foi uma experiência única e
fantástica. Mas não desceram do céu coraçõezinhos vermelhos que
enfeitariam o momento ao som de uma música emocionante. Não. Foi ao
som de um tímido choro e das vozes da equipe médica que uma
extensão de mim, totalmente desconhecia, ganhava vida fora da
barriga. Era um serzinho todo enrugadinho, assustado e com frio, que
apontava no canto da sala e que veio parar no meu peito.
E foi a partir desse momento
que a loucura toda começou.
Não posso me queixar do
parto, foi tudo muito rápido, tranquilo e sem dor, sendo que seis
horas depois eu já estava tomando um banho, recarregando as energias
e me preparando para a minha nova profissão.
Mas a realidade é nua e crua:
o primeiro mês é um massacre.
O corpo está se recuperando
de um furacão de hormônios e temos que ter paciência para aprender
a amamentar, trocar fralda, vestir e dar banho, isso tudo ficando
horas sem dormir direito. Sem contar quando o bebê é sensível e
chora muito ao ficar sem roupa na hora da troca de fralda e do banho.
Depois, começam os movimentos
intestinais do bebê, ou as famosas “cólicas”, o choro
intermitente e angustiante, que faz qualquer mulher pensar por qual
motivo mesmo tinha engravidado, suplicando sua vida de antes de
volta. Veja bem: inexiste amor incondicional, borboletas ou trilha
sonora romântica. E é um luxo quando conseguimos tomar um banho
mais demorado e fazer as unhas. Há também quem sofra com a
amamentação, quem não tenha leite ou que fique baby blues (que tem
depressão pós-parto).
Mas atenção, isso não quer
dizer que tu deixas de gostar mais ou menos daquele serzinho, tão
carente de amor e cuidados. Só que no início não é essa delícia
toda. O peso da responsabilidade pertence unicamente a ti. Às vezes
algumas mães têm sorte, possuem um bebê anjo, outras possuem um
bebê enérgico ou sensível demais.
Verdade seja dita: não é
fácil cuidar de um recém-nascido, e depois que constatei isso na
pele, passei a admirar muito mais as minhas amigas que são mães
solteiras. E também passei a admirar a minha mãe, a minha sogra e
as minhas tias, que naquela época por mais maridos que possuíssem,
os mesmos não pegavam nem os filhos no colo. Um bom pai (e marido) é aquele que participa de igual pra igual, sem fugir da raia. E confesso: tive muitas
saudades da minha vida antes do Gabriel e das minhas oito horas de
sono.
Mas é a prática quem te
ensina. Mesmo assim, compramos dois livros na segunda semana de vida
do Gabriel, quando a choradeira começou e a gente ficou meio assim,
sem ter a menor noção do que fazer, a não ser ligar pra pediatra.
Os livros são de autoria de TRACY HOGG, a famosa “Encantadora de
Bebês”, um de capa azul - “Os segredos de uma Encantadora de
Bebês”-, e o outro de capa rosa - “A Encantadora de Bebês
resolve todos os seus problemas”.
Pra mim foram a salvação da
pátria. Passamos a observar o pequeno Gabriel quando estava mamando,
quando estava trocando fralda, tomando banho, fazendo alguma
atividade e dormindo, e mapeamos as crises de choro. Se era fome,
sono, desconforto, gases, etc. A Encantadora estabelece uma rotina
para o bebê, a qual chama de EASY, para que ele se sinta seguro e
para que a supermãe possa descansar, tomar um banho, fazer as
refeições e, porque não, namorar.
E quando estamos a ponto de
pular pela janela feito loucas, entra o segundo mês. As olheiras já
se incorporaram ao teu olhar, o corpo já se acostumou a carregar
peso e a manejar o bebê. Aprendemos a fechar os ouvidos na hora da
choradeira e a ter uma paciência nunca antes vista na vida. São os
instintos de mãe aflorando dia a dia.
E um belo dia, o bebê que mau
te enxergava e apenas sentia o teu cheiro e reconhecia a tua voz
passa a te olhar nos olhos e a sorrir. Sim, sorrir. E começa a
emitir sons engraçadinhos como quem estabelece uma conversa gostosa
até surgirem gritinhos felizes.
Aqui esquecemos toda a
trabalheira do primeiro mês, porque há um retorno de todo aquele
cuidado e atenção, há uma relação mais íntima, mais profunda,
naturalmente mágica. E o cheiro do bebê... ah, o cheiro do bebê, é viciante. E nesse mês eu entendi porque 99% das mães com quem eu
conversei não se lembram de ter passado tanto trabalho, a ponto de
já terem tido mais filhos.
Entra o terceiro mês e já
estamos mais no “piloto automático”. Já conhecemos as curvas da
estrada, as intempéries e já somos capazes de identificar o que
está incomodando os nossos pequenos, a ponto de sorrirmos enquanto
eles choram. As coisas começam a se organizar e a fluir com mais
segurança, e não é que a gente esquece mesmo o primeiro mês e já
passa a planejar o segundo filho, pois não tem como não se derreter
a um amor correspondido. Nada bate a sensação de uma mãe poder
nutrir o seu próprio filho e vê-lo se desenvolver feliz.
Mas é preciso coragem,
paciência e perseverança.
É um caminho sem volta e que
pode ter vários sabores: vai da loucura do caos ao verdadeiro
mistério do amor de uma mãe por um filho, e vice-versa.