quinta-feira, agosto 21, 2014

Treze semanas com Ele

Muito ouvi falar quando estava grávida: “quando nasce um bebê, nasce uma mãe...”;“é o verdadeiro amor incondicional...”; “é maravilhoso ter um filho...”; blá blá blá...

Não se iludam, minhas queridas.
Quando nasce um bebê, as cores da vida mudam de tonalidade.

As ruas, embora continuem as mesmas de antes, se transformam em caminhos desconhecidos e incertos. Já não sabemos se estamos acordadas ou se estamos dormindo, como em um sonho interminável. Os músculos, cansados e por vezes incansáveis, atingem seu ápice de existência, a fim de que fique bem claro que somos meros mortais. O surgimento de uma nova vida requer mais VIDA.

Ninguém, mas ninguém comenta os detalhes dessa nova fase. Apenas ouvimos: “é cansativo, mas recompensador”. E pesquisas apontam que 90% das mulheres mentem quando dizem que está tudo bem nos primeiros meses, quando na verdade não está. Por mais que se leia milhões de livros, se faça milhões de cursos, apenas milhões de práticas é que vão te dar alguma segurança.

O Gabriel veio assim, sem hora marcada, às 2h30min do dia 16.05.2014, após a minha chegada às 23h30min no hospital, sem qualquer glamour (a bolsa já havia estourado em casa e estava literalmente com uma toalha enrolada nas pernas). Sem cabeleireiro, sem maquiagem e sem filmagem hollywoodiana o guri veio ao mundo de parto normal, pesando 3.400gr e medindo 50,5cm.

Foi uma experiência única e fantástica. Mas não desceram do céu coraçõezinhos vermelhos que enfeitariam o momento ao som de uma música emocionante. Não. Foi ao som de um tímido choro e das vozes da equipe médica que uma extensão de mim, totalmente desconhecia, ganhava vida fora da barriga. Era um serzinho todo enrugadinho, assustado e com frio, que apontava no canto da sala e que veio parar no meu peito.

E foi a partir desse momento que a loucura toda começou.
Não posso me queixar do parto, foi tudo muito rápido, tranquilo e sem dor, sendo que seis horas depois eu já estava tomando um banho, recarregando as energias e me preparando para a minha nova profissão.

Mas a realidade é nua e crua: o primeiro mês é um massacre.
O corpo está se recuperando de um furacão de hormônios e temos que ter paciência para aprender a amamentar, trocar fralda, vestir e dar banho, isso tudo ficando horas sem dormir direito. Sem contar quando o bebê é sensível e chora muito ao ficar sem roupa na hora da troca de fralda e do banho.

Depois, começam os movimentos intestinais do bebê, ou as famosas “cólicas”, o choro intermitente e angustiante, que faz qualquer mulher pensar por qual motivo mesmo tinha engravidado, suplicando sua vida de antes de volta. Veja bem: inexiste amor incondicional, borboletas ou trilha sonora romântica. E é um luxo quando conseguimos tomar um banho mais demorado e fazer as unhas. Há também quem sofra com a amamentação, quem não tenha leite ou que fique baby blues (que tem depressão pós-parto).

Mas atenção, isso não quer dizer que tu deixas de gostar mais ou menos daquele serzinho, tão carente de amor e cuidados. Só que no início não é essa delícia toda. O peso da responsabilidade pertence unicamente a ti. Às vezes algumas mães têm sorte, possuem um bebê anjo, outras possuem um bebê enérgico ou sensível demais.

Verdade seja dita: não é fácil cuidar de um recém-nascido, e depois que constatei isso na pele, passei a admirar muito mais as minhas amigas que são mães solteiras. E também passei a admirar a minha mãe, a minha sogra e as minhas tias, que naquela época por mais maridos que possuíssem, os mesmos não pegavam nem os filhos no colo. Um bom pai (e marido) é aquele que participa de igual pra igual, sem fugir da raia. E confesso: tive muitas saudades da minha vida antes do Gabriel e das minhas oito horas de sono.

Mas é a prática quem te ensina. Mesmo assim, compramos dois livros na segunda semana de vida do Gabriel, quando a choradeira começou e a gente ficou meio assim, sem ter a menor noção do que fazer, a não ser ligar pra pediatra. Os livros são de autoria de TRACY HOGG, a famosa “Encantadora de Bebês”, um de capa azul - “Os segredos de uma Encantadora de Bebês”-, e o outro de capa rosa - “A Encantadora de Bebês resolve todos os seus problemas”.

Pra mim foram a salvação da pátria. Passamos a observar o pequeno Gabriel quando estava mamando, quando estava trocando fralda, tomando banho, fazendo alguma atividade e dormindo, e mapeamos as crises de choro. Se era fome, sono, desconforto, gases, etc. A Encantadora estabelece uma rotina para o bebê, a qual chama de EASY, para que ele se sinta seguro e para que a supermãe possa descansar, tomar um banho, fazer as refeições e, porque não, namorar.

E quando estamos a ponto de pular pela janela feito loucas, entra o segundo mês. As olheiras já se incorporaram ao teu olhar, o corpo já se acostumou a carregar peso e a manejar o bebê. Aprendemos a fechar os ouvidos na hora da choradeira e a ter uma paciência nunca antes vista na vida. São os instintos de mãe aflorando dia a dia.

E um belo dia, o bebê que mau te enxergava e apenas sentia o teu cheiro e reconhecia a tua voz passa a te olhar nos olhos e a sorrir. Sim, sorrir. E começa a emitir sons engraçadinhos como quem estabelece uma conversa gostosa até surgirem gritinhos felizes.

Aqui esquecemos toda a trabalheira do primeiro mês, porque há um retorno de todo aquele cuidado e atenção, há uma relação mais íntima, mais profunda, naturalmente mágica. E o cheiro do bebê... ah, o cheiro do bebê, é viciante. E nesse mês eu entendi porque 99% das mães com quem eu conversei não se lembram de ter passado tanto trabalho, a ponto de já terem tido mais filhos.

Entra o terceiro mês e já estamos mais no “piloto automático”. Já conhecemos as curvas da estrada, as intempéries e já somos capazes de identificar o que está incomodando os nossos pequenos, a ponto de sorrirmos enquanto eles choram. As coisas começam a se organizar e a fluir com mais segurança, e não é que a gente esquece mesmo o primeiro mês e já passa a planejar o segundo filho, pois não tem como não se derreter a um amor correspondido. Nada bate a sensação de uma mãe poder nutrir o seu próprio filho e vê-lo se desenvolver feliz.

Mas é preciso coragem, paciência e perseverança.

É um caminho sem volta e que pode ter vários sabores: vai da loucura do caos ao verdadeiro mistério do amor de uma mãe por um filho, e vice-versa.