segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Os pitaqueiros do carnaval

De quando em quando eu gosto de ouvir os comentários futebolísticos e todos os pitacos que os jornalistas e afins dão nesses programas radiofônicos, todos os dias.

É interessante ouvir os “riquíssimos ensinamentos” sobre como ser um excelente técnico de futebol, como escalar perfeitamente o time e como fazê-lo ganhar, mesmo estando quase na zona de rebaixamento. Ah, sem falar nas críticas que jogadores e técnicos recebem por não atenderem, simpaticamente, a imprensa, como se eles não tivessem um bom motivo para assim agirem...

Juro que quase cheguei a entrar em contato com uma dessas rádios, só para saber quanto ganha um ser humano que exerce tal atividade, depois de tantas coisas terríveis que já ouvi. Porém, desisti. Não sei se valeria a pena entrar nessa guerra de palavras e pensamentos. Ademais, toda regra tem uma exceção. Oremos.

Não farei nenhuma crítica quanto ao português empregado (ou desempregado, digamos), façamos de conta que todos os que possuem o poder da palavra, tanto no rádio como na TV, possuem, no mínimo, o ensino superior incompleto... oremos novamente.

Eu havia esquecido, depois de quase dois anos sem acompanhar os desfiles de carnaval do Rio de Janeiro pela TV, que os comentaristas estão lá também. E, ao assistir maravilhada a criatividade de cada escola de samba, renovada a cada ano, parei para prestar atenção na narrativa carnavalesca...

A primeira coisa que me veio à cabeça: ainda bem que não é a voz do Galvão Bueno! Só isso já acalmou a minha alma, embebecida pelas cores e pelo batuque da bateria... mas convenhamos: de onde eles tiram aqueles comentários? Será que as escolas de samba não poderiam antecipar o enredo?

Penso, humildemente, que comentar futebol é pra qualquer um. Qualquer um que goste, no mínimo, de praticar o esporte, e saiba, profundamente, o quanto é emocionante dominar uma bola e chutá-la em gol, dar um “olé” qualquer, fazer uma defesa acrobática inesquecível e acertar um passe no pé do companheiro de campo.

Contudo, para comentar o carnaval, é preciso, no mínimo, um pouco de vivência dentro do barraco, ao lado do suor da pele, do bordado que durou meses para ser feito, do peso da fantasia, do sentido da melodia, da razão do samba, da ordem dos acontecimentos. Eu não tenho essa experiência, e seria uma excelente pitaqueira do carnaval.

O jeito é ficar mais dois anos distante do desfile de carnaval do Rio de Janeiro que passa na TV, ou, na pior das hipóteses, é ficar sem o agitado batuque da bateria... silêncio absoluto. Em pleno carnaval.

sábado, fevereiro 13, 2010

A FALSÁRIA

Foi em uma dessas oportunidades baratas que aquela criaturinha se jogou embaixo do primeiro carro que apareceu. Era o seu grande dia de sorte, depois de ter tentado aplicar esse golpe durante muitos dias.

Ocorre que o carro parou e dele saiu uma generosa jovem, disposta a ajudar da melhor maneira possível aquele serzinho assustado. Tal jovem, conhecida por “Felícia”, era fã de felinos.

Aquela criaturinha, cinza-tigrada, olhos verdes, quatro patas, estava imóvel, mal se mexia, e havia um calombo na cabeça com resquícios de sangue. Nitidamente se encontrava desnutrida e aparentava ter sido violentamente espancada. Era uma cena de dar dó a qualquer ser humano. Olhar fixo para o horizonte, a criaturinha orava para os céus, como quem pedia ajuda ao vento.

Porém, toda essa cena, digna dos filmes de Hollywood, era apenas para impressionar.

E aquela jovem, amante de gatos, iludida por aquela armação, não pensou duas em vezes em levar aquela criaturinha para sua casa e dar-lhe toda a atenção necessária.

E foi em sua casa que a falsária se apresentou primeiramente como “Enzo”, tendo recebido banhos diários, muito leite e uma boa vida, digna de todo e qualquer gato rico.

Os dias foram passando e a falsária demonstrava ser um felino amável, merecedor daquele lar aconchegante, cheio de regalias e mimos, tendo sido transferida para a casa da vovó, onde receberia carinhos em quádruplo.

Na primeira consulta ao veterinário, por estar muito abatida e abandonada (perfil que ela simulou), ninguém ainda havia descoberto que “Enzo” se tratava de uma fêmea... e ela continuou a simulação.

Contudo, nenhuma mentira dura para sempre. Foi quando, na segunda consulta ao veterinário, a máscara caiu. “Enzo”, em verdade, se tratava de “Luly Baluly”, felina foragida da Itália (por isso o nome “Enzo”), aplicadora de golpes em humanos.

Descobriu-se, através de contato com a polícia secreta italiana, que “Luly Baluly” aplicou o mesmo golpe no Vaticano, mas teria sido descoberta por um pastor alemão, o qual, em visita de rotina nos aposentos do Papa, flagrou a gatuna dormindo em lençois de seda pura.

Porém, antes de ser presa, a gatuna se refugiou no Brasil, o paraíso dos criminosos, tendo sido vista, pela última vez, na doce Paris dos Pampas Gauchos.

Se alguém a tiver visto por aí, ligue para LINHA FELINA DIRETA, 0800-miau-miau.

Sua identidade será preservada.


Luly Baluly em sua última aparição pelo Brasil