Dizem que percorremos os
caminhos que escolhemos, sejam boas ou más escolhas, mas a verdade é que só
saberemos o que aprenderemos com elas depois de vivenciá-las.
Fiquei um pouco mais de um
ano trabalhando em uma cidade próxima da capital, mais ou menos há uma hora e
meia de casa, de carro. Embora exista uma infinidade de pessoas que não gostem
de viver no trânsito e não têm a menor paciência com ele, eu sempre gostei de
dirigir, principalmente o meu carro.
E já que tinha que me
acostumar a perder quase que 3h por dia dentro dele, que fosse da forma mais
saudável possível. Por algum tempo apenas ouvia música, percebia a falta de
educação de motoqueiros, taxistas e motoristas de ônibus da capital gaúcha,
sonhando em um dia acordar com uma brilhante ideia para “educar as pessoas no
trânsito”.
Infelizmente, foram longos
dias assistindo as maiores atrocidades nas vias públicas gaúchas, em meio a
rezas de que eu jamais seria uma daquelas pessoas estúpidas a criar problemas
daqueles feitios. Peguei chuva, sol, vento, calor, tempestades, dias nublados,
ensolarados, vi caminhões tombados, acidentes recém ocorridos, gastei muita
grana nos pedágios e chorei pelas estradas não receberem o devido retorno.
Certa vez, não sei bem ao
certo como aconteceu, mas entrou na minha vida os tais audio-books, e também
consegui com a minha professora de pilates local (a querida Simone) as melhores
palestras de vida que já ouvi, provenientes do meu amigo “Di”, como passei a
chamá-lo, depois de tantas conversas pelo caminho. Foram os melhores momentos
da minha jornada diária no trânsito. Tinha dias que não queria chegar no
trabalho sem antes ouvir o fim de um capítulo, ou ficava em frente a minha
casa, esperando o tópico acabar. E foi aí que entendi aquele ditado de que mais
vale o percurso da viagem do que a chegada no destino final.
Assim, o trânsito cansativo
e angustiante de todos os dias foi perdendo espaço para os meus áudios, que me
trouxeram um doce alento durante o caminho. Igualmente, pouco a pouco fui
começando a me apaixonar pelo meu local de trabalho, um ambiente de boa harmonia,
onde conheci diversas pessoas do bem. Essas sim eram a alegria dos meus dias de
trabalho, por mais pesados que eles fossem, por mais problemas que eu tivesse
que resolver. Nada se compara ao fato de podermos contar com pessoas sinceras,
adoráveis, educadas e inteligentes.
E difícil mesmo foi, depois
de pouco mais de um ano, deixar a sala 13, as minhas queridas estagiárias
Eniale, Jana e Paty (responsáveis, inteligentes e lindas), a tia Vera e suas
guloseimas maravilhosas, as conversas agradáveis de corredor de fórum, as
tentativas – todas frustradas – de fazer o cover da cantora Paula
Fernandes para a Loiva e a Terê, enfim, tanta gente bacana de se conviver e de
se viver, que vai ser difícil nominar. Ali pertinho, também vou sentir saudades das Gabrielas e da Camila, bem como de trabalhar ao lado de uma colega muito especial: a Roberta.
Despedida sempre é um troço
ruim, principalmente quando se deixa um lugar muito bom. Mas no meu caso, nunca
é tarde para voltar lá e viver outras tantas coisas boas novamente, já que, na
minha profissão, é sempre possível voltar atrás em algum lugar do Estado. Pena
que, se um dia eu voltar, muita gente boa não estará mais por lá. Por enquanto, o lugar está seguro com o Rodrigo.
Se me perguntarem se valeu a
pena desperdiçar praticamente 3h do meu dia dentro de um carro, ter paciência
para o engarrafamento na saída e na entrada de Porto Alegre, ter disposição
para trabalhar mais 8h por dia, eu digo que faria tudo novamente,
principalmente se o “Di” continuasse a me acompanhar.
Às vezes só entendemos
porque trilhamos certo caminho um tempo depois. Às vezes, nunca chegamos a
entender porque tivemos que percorrê-lo. Mas o principal é poder olhar pra trás e sentir que o dever foi cumprido e, por mais árduo, ainda assim, fomos muitos felizes.
Até logo, Charqueadas querida.
Obs.: "Di" é o apelido carinhoso que dei a Divaldo Pereira Franco, grande homem.