Nunca
imaginei que esse dia iria de fato chegar. O dia em que conheceria,
de perto, uma pessoa com cem anos de idade.
Ela
nasceu em 1919, no distrito de Bojuru, no interior de São José do
Norte, no Rio Grande do Sul. Já tinha uma irmã, chamada Maria.
Vinte anos depois nasceu um irmão, chamado Rosalvo.
Ela
nasceu e a televisão ainda não tinha sido inventada. Novela e
notícias eram só no rádio. Nada de computadores, telefones ou
celulares – isso era coisa futurística, nem pensada.
Correspondência era por carta – nada de email, ou por
conversa olho no olho entre amigos e conhecidos.
Passou
por um trilhão de momentos, bons e ruins, vestiu-se das cores das
inúmeras tendências de moda, viajou por diversos lugares, fez
centenas de amigos.
Ela
se casou e teve um filho e uma filha. Na sequência, teve seis netos.
Hoje tem quatro bisnetos.
O
marido já se foi há mais de 12 anos, mas continua presente na
memória dela todos os dias.
Não
tenho ideia do que se passa na cabeça dela ao imaginar tudo o que
viveu na infância, adolescência, juventude, vida adulta e na fase
idosa.
Só
sei que há mais de quarenta anos faço parte da vida dela. Há mais
de quarenta anos ela faz parte da minha vida.
E
no meio de tantos quilômetros rodados, ainda há sanidade, ainda há
lembrança, ainda há esperança.
Mesmo
com algumas tristezas no final da vida, ela sempre me diz: “vivi
uma vida feliz. Amei e fui amada. Tem coisa melhor?”
Edith
faz 100.
O
que se pode desejar a alguém que completa cem anos de existência?
Só
sei que amo muito a minha véinha.
Bom
fim de vida, minha vó!