A vida na TV...
Às vezes, depois de um dia de trabalho, tudo o que se quer é apenas descansar. Se jogar debaixo do chuveiro. Fazer um lanche. Dormir mais cedo. Abrir um novo livro. Ir ao cinema. Dançar. Pular no sofá. Brincar com o controle remoto da TV.
Poucas vezes uso a TV como uma estratégia para o descanso, mas confesso que na última semana foi a opção mais próxima que encontrei, entre uma navegada e outra na internet, entre uma página e outra de “A menina que roubava livros”.
Tática extremamente infeliz.
Primeiro, vieram as chamadas para o “BBB” (Big Brother Baboseira), fazendo especulações, mostrando intrigas, expondo bundas, tatuagens e tetas. Depois, o programa continuava a ser exibido após a super novela das oito (a qual por ironia passa às nove), que por vezes mostra imagens do estrangeiro (com algumas paisagens até que interessantes - nem tudo está perdido), fazendo supor que as filmagens nos cenários são reais e que todo elenco global se encontra por lá, no “Caminho das Índias”...
Então, depois de ouvir as mesmas conversas de NOVE SOFRIDOS E DESESPERADORES ANOS (tendo que aguentar essa futilidade do BBB desde 2000); aquela choradeira toda - “você votou em mim, seu traidor”; as super amizades que nascem no confinamento e são esquecidas na vida real; o fato de que todo mundo tem que votar em alguém, goste ou não (pombas, esse é o jogo, certo?), e que no fim o pessoal está recebendo - e bastante - para expor a sua imagem (ainda que ela não valha nada para os milhões de brasileiros que ligam a TV nessa hora e nesse canal), simular, gritar, representar, fofoquear, brigar, chorar, blá blá blá; é hora de trocar de canal.
E troca, troca, troca, troca de canal... e NADA.
Para quem não tem TV a cabo, a morte súbita na cama parece ser o único fim. A não ser que se volte à navegação, à leitura, ao chocolatinho sagrado de todos os dias, ao aconchego dos carinhos do ser amado.
Mas não, uma última tentativa, uma última promessa... “Promessas de Amor”, o verdadeiro reloaded de “Os mutantes - caminhos do coração”.
Não, não me perguntem mais nada.
Sim, se estou a falar desses programas, é porque, em algum momento da semana, dediquei míseros minutos da minha audiência a eles...
Mas sabem o que é pior? É descobrir que vale muito mais a pena (porque pateticamente divertido) assistir a luta entre os humanos e os mutantes, ver os direitos constitucionais dos mutantes serem atacados (gente, essa é a fala dos personagens, inacreditável - a mesma Constituição que protege os humanos deve protege os mutantes - isso é direito intergaláctico, ou na fala deles, são os direitos humanos dos mutantes!!!), do que tolerar o Big Brother Baboseira (que, cá pra nós, tem todo o jeito de ser pura armação).
A gargalhada é coisa garantida com os mutantes, principalmente porque por mais imbecil que seja o enredo (e ele o é - não duvidem disso), alguns bons atores conseguem dar vida ao absurdo (como por exemplo as gêmeas interpretadas por Françoise Fourton, o mutante chefe interpretado por Walmor Chagas [o vistoso Afonso da Maia, da minissérie global “Os Maias”]). Por outro lado, alguns atores são terrivelmente péssimos (o que, infelizmente, é motivo de muita risada), sendo que a ausência de elementos que possam embasar essa minha afirmação me faltam: só vendo para entender (eu digo: vejam, pelo menos uma vez na vida).
Não pretendo ofender ninguém que curte esses programas - eles até que me são divertidos...
Como vivemos numa sociedade pluripartidária, democrática e o escambau, é normal que tenhamos opiniões diferentes, alicerçadas em vivências culturais variadas - boas ou não.
Paciência.
Hoje eu só precisava mesmo era desabafar.
P.S.: para matarem um pouquinho a curiosidade, vejam o trailer de "Os mutantes - caminhos do coração", abaixo...