Diz
o ditado popular que a curiosidade matou o gato.
Aqui
em casa, além de mim, vivem dois grandes curiosos.
Um
deles é uma felina, conhecida por Amèlie Poulain, que por sua
natureza siamesa é muito ávida aos segredos alheios, principalmente
quando se trata dos humanos e de seus hábitos esquisitos.
Há quatro semanas, Amèlie circulava pela janela da área de serviço –
a qual está provisoriamente sem telinha para gatos – e, em
segundos, desapareceu do 5º andar.
A
vizinha, que também tem uma gatinha, bateu em desespero na porta de
casa e disse que vira um vulto, seguido por um barulho estranho de
queda: “acho que era a gatinha de vocês”.
Segundos
depois, mesmo não acreditando que de fato Amélie Poulain havia se
jogado/escorregado do 5º andar, descemos na velocidade da luz as
escadas do prédio, encontrando-a escondida atrás de uma bicicleta
nos fundos do edifício.
Havia um pequeno corte no queixo dela com poucas gotas de sangue, mas nenhum sinal de fratura ou batida.
Fomos
imediatamente à veterinária que mora em frente ao nosso prédio e
lá constatamos que ela também havia mordido a língua (quem mandou querer
espiar a intimidade dos vizinhos), mas que o ideal seria fazer uma
ecografia, para ver se ela não tinha machucado algum órgão na
“descida”.
Depois
da ecografia a comprovação de que havia um pequeno coágulo na
bexiga, que poderia ter sido causado pela queda, traduzida em uma
leve cistite, acompanhada de um remedindo para sarar.
Quem
foi que disse que gato não tem 7 vidas?
Neste
caso, a curiosidade de Amélie quase a matou.
Ainda
bem que o provérbio não vingou dessa vez.
Amèlie depois da queda tentando provar que ainda possui outras 6 vidas |
Um
segundo episódio, envolvendo um outro gato, esse humano, ocorreu em
Cancun, no México. Depois daquela tormenta do post anterior, ainda
vivenciamos um momento que, ao meu ver, foi bem mais crítico e
perigoso do que a chegada do Rina.
Era
a nossa última noite em Cancun e nos preparávamos para ir ao CocoBongo, uma
discoteca-bar-show com bebida liberada, um lugar inigualável e que
vale a pena ser visitado, ainda que custe – o ingresso mais barato
– U$ 50 dólares por cabeça.
Lá
pelas 18h saímos daquele marzão verde-água, pedimos um lanche no
quarto e começamos a arrumar as malas para nossa volta ao Brasil, já
que era a última noite no México.
Ao
entrar em nosso quarto a verdadeira “tormenta” começou.
Um
jovem casal americano no quarto ao lado começara a discutir, mas
apenas ouvíamos a voz feminina, que dizia incessantemente: “why
are you doing this to me? Why are you doing this to me? Why are you
doing this to me” (na tradução livre: “por que você está
fazendo isso comigo?”).
A
americana tinha uma voz irritante e gritava bem alto para qualquer um
ouvir. Mal se ouvia a voz do cara, que por vezes rangia os dentes e
sussurrava palavras incompreendidas por nós.
A
discussão começou a aumentar e novamente: “why are you doing this
to me, Mike!?”.
Opa,
o que será que o “Mike” aprontou?
Aí,
entrou em cena o meu gato humano. Curioso como ele só (e óbvio que
eu também estava curiosa), aproveitou-se do fato de que havia duas
portas entre os nossos quartos (ambas trancadas, é claro), pois era
o tipo de quarto que poderia receber uma família grande, e passou a
ouvir todas as lamentações, xingamentos e palavreados em inglês.
o que a curiosidade é capaz de fazer com o ser humano? |
Em
respeito ao Mike e a sua girlfriend, não irei transcrever aqui o tom
da discussão de ambos que em certo momento desceu todos os níveis
da civilização mundana. Só o que posso dizer é que nem no meu
curso de inglês no Fisk ouvi tanta bandalheira (isso que eu tive um
professor show de bola que nos intervalos das aulas nos ensinava os
melhores palavrões em inglês).
O
fato é que aquele dia era aniversário do Mike e, coincidentemente,
Dia das Bruxas (30/10). Se ela era uma bruxa ou não, eu não sei. Só
sei que o Mike e sua namorada a recém tinham aportado em Cancun e
ele queria sair com os amigos para comemorar o seu aniversário
“alone”. Ou seja, a turbulência toda da discussão começou
porque Mike queria descer até o hall do hotel e beber com os amigos,
enquanto sua girl se aprontava para saírem mais tarde.
Ela achou
aquilo um insulto, então o tempo fechou e começaram as indagações
do tipo (tradução livre e na forma light): “você me trouxe
aqui para ficar com as outras? É isso que você quer? O que você
pensa que eu sou? É assim que você me trata? Olhe pra você no
espelho! Você está drogado, Mike?”. Nesse meio tempo Mike
resmunga alguma coisa, não captada por nosso curioso colado na
porta (foto ilustrativa acima), e sai porta fora do quarto. Eu juro, eu quase saí atrás pra
ver que cara tinha o Mike.
Minutos
de silêncio. Paz no corredor do hotel.
Tempos
depois Mike retorna ao quarto e aí o medo aportou de verdade em
Cancun.
A
namorada começa a discussão novamente, com a mesma voz irritante, o
que dificulta ainda mais um diálogo civilizado entre ambos, quando
então coisas começam a ser violentamente quebradas no quarto e
gritos são ouvidos.
Tudo
o que eu pensei foi: “quebraram a mesa de vidro do quarto!”.
E
aí o pânico tomou conta de mim.
O
que seria da girlfriend de Mike?
O
meu curioso dizia: só vou ligar para a recepção se ela gritar
“help”, porque é bem provável que amanhã o casal passeie de
mãos dadas pela praia e esse tipo de atitude seja uma rotina na vida
amorosa deles... como se nada de anormal estivesse acontecendo.
Cansados
da gritaria e do barulho dos cacos de vidros roçando pra lá e pra
cá no chão, fomos jantar e depois curtir uma noite fantástica no
Coco Bongo.
Mas
eu alertei: se quando voltarmos da noite a gritaria continuar, vou
reclamar na recepção do hotel e azar o deles (ou nosso).
Na
volta uma pequena luz brilhava por entre a porta e o silêncio era
absoluto no quarto de Mike e sua girl.
Será
que eles tinham saído?
Será
que eles se entenderam, fizeram um sexo violento e caíram no sono?
Será
que eles estavam mortos?
Até
hoje nos perguntamos e choramos de curiosidade para saber o que aconteceu depois de tanto tumulto. E que cara teria Mike? A sua girlfriend era loira ou morena? Eles usavam drogas? Há
quanto tempo estariam juntos? Será que eles fazem o tipo de casal obsessivo por discussões?
Que
Deus abençoe a nossa curiosidade e nos mantenha vivos para desvendá-la!