domingo, julho 22, 2012

Casar ou não casar, eis a questão


Há muito tempo que tenho algumas coisas para falar sobre “casamento”.
Essa palavrinha aí que gera arrepios no macharedo e suspiros na mulherada.
Mas vamos combinar uma coisinha: do casamento dos meus avós até os dias atuais, o mundo wedding deu muitas voltas.

Há alguns anos atrás eu fui a vários casamentos na sequência. 
Casamentos religiosos, civis, de festa chique, de festa simples, de muitos discursos, de poucos amigos, de grandes sorrisos, de diferentes lágrimas, de cumplicidade no olhar, de comida picante, de música alta, de bebida controlada, de amor estampado no ar, de família reunida, de desejo cumprido.

E ficava imaginando como seria o “meu” casamento.
Não que fosse uma coisa que eu quisesse muito, sério. 
Desde adolescente pensava que “se” fosse casar, seria de dia, com a luz do sol estampada no rosto, em um gramado lindo, cheio de flores, sem igreja, mas com o noivo “certo”.

Durante muito tempo meu pai ficou tranquilizado, porque eu dizia que não queria festa de casamento, achava um insulto gastar uma grana preta quando se podia até comprar um apartamento com o valor da festinha (embora eu tivesse consciência que o meu pai não pagaria tal dote), porém, qual mãe de noiva não sonha com uma festa pompuda no dia do casamento da filha?

Aí, eu fui surpreendida com um anel de noivado no dia do meu aniversário ano passado, sabe aqueles que chamam de “solitário” (nunca entendi esse nome, pois é o anel que acompanha a aliança de casamento, certo?), e acabei repensando a história de fazer uma festa, que bem que podia sair barata, não?

Sim, podia e saiu.
Mas a questão não era o “preço” da festa, e sim o “valor” da união.

Encontrar a alma gêmea pode ser uma tarefa árdua, mas acreditem, ela existe, e acontece quando menos se espera.
E casamento – com festa ou sem festa – só é bom se estivermos na companhia da pessoa certa.

A pessoa certa é aquela que se afina à tua energia, que se amolda à tua harmonia e que fala a mesma língua que a tua, sendo a recíproca totalmente verdadeira e necessária

É alguém que te respeita, que tu respeitas; é alguém que te admira, que tu admiras; é alguém que te provoca felicidade, que tu fazes feliz; é alguém que vibra na tua energia, que tu sentes a energia; é simplesmente alguém te ama tranquilamente, que tu amas infalivelmente.

E esse é o “x” da questão “casamento”.
A pessoa certa é aquela que não deixa nenhuma dúvida.

Não adianta ter a festa perfeita, o vestido de noiva inédito (e caríssimo), o tapa de luva provocado em pessoas de pouca fé, a filmagem de cinema, as fotografias de modelo, o que fica mesmo é a cumplicidade do casal. E é só isso que vai contar no bravo e longo caminho do matrimônio, porque casamento requer muita ginga.

Na época dos meus avós não havia muitas escolhas, e não tenho certeza se eles puderam escolher alguma coisa. O cara certo nem sempre era certo e a mulher tinha que se submeter a muitas situações constrangedoras, pois, afinal de contas, “tinha” que se casar. Muitos casamentos se resumiam a excelentes fusões de negócio entre famílias, embora se saiba que isso ainda existe hoje em dia. E há quem diga que embora o casamento tenha sido “engendrado”, o “amor” veio com a convivência ao longo do tempo. Amor ou conforto? Amor ou submissão?

Mas para aqueles que podem escolher, principalmente as mulheres que sonham com esse dia desde pequenininhas, não se enganem, nem gastem energia em relacionamentos fadados ao insucesso com homens imaturos, arrogantes ou "incompatíveis".

Há muita gente legal por aí, basta olhar para o lado. Às vezes, pode ser aquele colega de faculdade amigo, querido e sensível. E note que sensibilidade tem a ver com a existência de um olhar atento ao que há de melhor na vida.

E ficam as dicas: 

1) na dúvida, não case.

2) na certeza, se entregue.

3) e se quiser fazer uma festa, ela não precisa ser cara e pompuda, basta ser verdadeiramente desejada.

... e eles viveram felizes para sempre.


quarta-feira, fevereiro 29, 2012

why are you doing this to me?


Diz o ditado popular que a curiosidade matou o gato.
Aqui em casa, além de mim, vivem dois grandes curiosos.

Um deles é uma felina, conhecida por Amèlie Poulain, que por sua natureza siamesa é muito ávida aos segredos alheios, principalmente quando se trata dos humanos e de seus hábitos esquisitos.
Há quatro semanas, Amèlie circulava pela janela da área de serviço – a qual está provisoriamente sem telinha para gatos – e, em segundos, desapareceu do 5º andar.

A vizinha, que também tem uma gatinha, bateu em desespero na porta de casa e disse que vira um vulto, seguido por um barulho estranho de queda: “acho que era a gatinha de vocês”.
Segundos depois, mesmo não acreditando que de fato Amélie Poulain havia se jogado/escorregado do 5º andar, descemos na velocidade da luz as escadas do prédio, encontrando-a escondida atrás de uma bicicleta nos fundos do edifício.

Havia um pequeno corte no queixo dela com poucas gotas de sangue, mas nenhum sinal de fratura ou batida.
Fomos imediatamente à veterinária que mora em frente ao nosso prédio e lá constatamos que ela também havia mordido a língua (quem mandou querer espiar a intimidade dos vizinhos), mas que o ideal seria fazer uma ecografia, para ver se ela não tinha machucado algum órgão na “descida”.
Depois da ecografia a comprovação de que havia um pequeno coágulo na bexiga, que poderia ter sido causado pela queda, traduzida em uma leve cistite, acompanhada de um remedindo para sarar.

Quem foi que disse que gato não tem 7 vidas?
Neste caso, a curiosidade de Amélie quase a matou.
Ainda bem que o provérbio não vingou dessa vez.

Amèlie depois da queda tentando provar que ainda possui outras 6 vidas

Um segundo episódio, envolvendo um outro gato, esse humano, ocorreu em Cancun, no México. Depois daquela tormenta do post anterior, ainda vivenciamos um momento que, ao meu ver, foi bem mais crítico e perigoso do que a chegada do Rina.

Era a nossa última noite em Cancun e nos preparávamos para ir ao CocoBongo, uma discoteca-bar-show com bebida liberada, um lugar inigualável e que vale a pena ser visitado, ainda que custe – o ingresso mais barato – U$ 50 dólares por cabeça.
Lá pelas 18h saímos daquele marzão verde-água, pedimos um lanche no quarto e começamos a arrumar as malas para nossa volta ao Brasil, já que era a última noite no México.
Ao entrar em nosso quarto a verdadeira “tormenta” começou.

Um jovem casal americano no quarto ao lado começara a discutir, mas apenas ouvíamos a voz feminina, que dizia incessantemente: “why are you doing this to me? Why are you doing this to me? Why are you doing this to me” (na tradução livre: “por que você está fazendo isso comigo?”).
A americana tinha uma voz irritante e gritava bem alto para qualquer um ouvir. Mal se ouvia a voz do cara, que por vezes rangia os dentes e sussurrava palavras incompreendidas por nós.
A discussão começou a aumentar e novamente: “why are you doing this to me, Mike!?”.
Opa, o que será que o “Mike” aprontou?

Aí, entrou em cena o meu gato humano. Curioso como ele só (e óbvio que eu também estava curiosa), aproveitou-se do fato de que havia duas portas entre os nossos quartos (ambas trancadas, é claro), pois era o tipo de quarto que poderia receber uma família grande, e passou a ouvir todas as lamentações, xingamentos e palavreados em inglês.

o que a curiosidade é capaz de fazer com o ser humano?

Em respeito ao Mike e a sua girlfriend, não irei transcrever aqui o tom da discussão de ambos que em certo momento desceu todos os níveis da civilização mundana. Só o que posso dizer é que nem no meu curso de inglês no Fisk ouvi tanta bandalheira (isso que eu tive um professor show de bola que nos intervalos das aulas nos ensinava os melhores palavrões em inglês).

O fato é que aquele dia era aniversário do Mike e, coincidentemente, Dia das Bruxas (30/10). Se ela era uma bruxa ou não, eu não sei. Só sei que o Mike e sua namorada a recém tinham aportado em Cancun e ele queria sair com os amigos para comemorar o seu aniversário “alone”. Ou seja, a turbulência toda da discussão começou porque Mike queria descer até o hall do hotel e beber com os amigos, enquanto sua girl se aprontava para saírem mais tarde.

Ela achou aquilo um insulto, então o tempo fechou e começaram as indagações do tipo (tradução livre e na forma light): “você me trouxe aqui para ficar com as outras? É isso que você quer? O que você pensa que eu sou? É assim que você me trata? Olhe pra você no espelho! Você está drogado, Mike?”. Nesse meio tempo Mike resmunga alguma coisa, não captada por nosso curioso colado na porta (foto ilustrativa acima), e sai porta fora do quarto. Eu juro, eu quase saí atrás pra ver que cara tinha o Mike.

Minutos de silêncio. Paz no corredor do hotel.

Tempos depois Mike retorna ao quarto e aí o medo aportou de verdade em Cancun.
A namorada começa a discussão novamente, com a mesma voz irritante, o que dificulta ainda mais um diálogo civilizado entre ambos, quando então coisas começam a ser violentamente quebradas no quarto e gritos são ouvidos.
Tudo o que eu pensei foi: “quebraram a mesa de vidro do quarto!”.
E aí o pânico tomou conta de mim.
O que seria da girlfriend de Mike?

O meu curioso dizia: só vou ligar para a recepção se ela gritar “help”, porque é bem provável que amanhã o casal passeie de mãos dadas pela praia e esse tipo de atitude seja uma rotina na vida amorosa deles... como se nada de anormal estivesse acontecendo.

Cansados da gritaria e do barulho dos cacos de vidros roçando pra lá e pra cá no chão, fomos jantar e depois curtir uma noite fantástica no Coco Bongo.
Mas eu alertei: se quando voltarmos da noite a gritaria continuar, vou reclamar na recepção do hotel e azar o deles (ou nosso).

Na volta uma pequena luz brilhava por entre a porta e o silêncio era absoluto no quarto de Mike e sua girl.
Será que eles tinham saído?
Será que eles se entenderam, fizeram um sexo violento e caíram no sono?
Será que eles estavam mortos?

Até hoje nos perguntamos e choramos de curiosidade para saber o que aconteceu depois de tanto tumulto. E que cara teria Mike? A sua girlfriend era loira ou morena? Eles usavam drogas? Há quanto tempo estariam juntos? Será que eles fazem o tipo de casal obsessivo por discussões?

Que Deus abençoe a nossa curiosidade e nos mantenha vivos para desvendá-la!

domingo, janeiro 29, 2012

Saudades de uma certa tormenta


Parece mentira, mas moro a umas seis quadras do mar, no litoral gaúcho, e somente no último fim de semana pude, de fato, me esticar na areia, tomar um banho de mar e limpar as impurezas de 2011 com muito sal grosso.

Só que cá pra nós, trabalho e praia não combinam. Pelo menos não com pessoas neuróticas e perfeccionistas (like me), porque na mente dessas pessoas uma chegadinha na beira da praia seria o mesmo que matar o trabalho, ainda que isso ocorra fora do expediente, o que traria sérios conflitos mentais.

Ademais, sobretudo e todavia, se banhar no litoral gaúcho é o mesmo que entrar em uma piscina de leite com nescau, um verdadeiro “chocolate”. Quem veraneia no litoral gaúcho ou lá mora sabe bem o que eu estou falando. Sem falar no repuxo e nas ondas fortes que tornam o banho de mar um verdadeiro “banho tcheco”. Desculpem, mas verdade seja dita.

Plataforma Marítima de Tramandaí, RS, e o mar "chocolate"
E então me vi com saudades de uma certa tormenta que pegamos no Caribe em outubro.

Desembarcamos no aeroporto internacional de Cancun, na Península de Yucatán, México, carregados de muambas provenientes de Miami e de Orlando, cansados das longas caminhadas nos parques da Disney e da Universal Studios e do decréscimo de nosso poderio econômico, e logo no início fomos levados a um blá blá blá de passeios mais baratos, time-sharing camuflado e, é claro, da chegada do furacão “Rina” previsto para “aquela” semana.

Chegando no hotel fomos muito bem recepcionados, todos sorrindo e gentis, champagne liberada no hall de entrada, check in mais cedo, razão pela qual nem me preocupei com o tal furacão, pois caso fosse “muito” sério, nem teriam permitido que desembarcássemos lá. Certo?

Errado.

Cada turno do dia um novo boletim espalhado pelos elevadores, hall de entrada, restaurantes e corredores do hotel. Primeiro, Rina atacaria a Ilha de Cozumel (daí nem cogitamos visitá-la, só por segurança), causando transtornos em Cancun e no aeroporto, sendo que os hóspedes deveriam entrar em contato com suas agências de turismo acerca da possibilidade de troca de voos, pois o aeroporto em algum momento iria fechar.

Nós não ligamos pra ninguém, literalmente e metaforicamente falando.

Passou-se o primeiro dia e aproveitamos para olhar aquele marzão verde-água, parecia filme. Só faltava mesmo o Jack Sparrow passar por ali e dar uma abanadinha, de sunga e protetor solar banana boat. No fim do dia o tempo se fechou e no horizonte tudo ficou escuro...


Rina a caminho
No segundo dia chuva o dia inteiro. Vento forte. Os empregados do hotel forravam grandes janelas de vidro com tábuas de madeira e novos boletins eram afixados nos lugares de fácil acesso. Um ar de seriedade pousou em Cancun.


caindo a ficha?
Bem, se é para esperar o furacão, que seja em grande estilo. 
Me dei o luxo de pagar um pacote no SPA do hotel com tudo o que eu tinha direito, afinal de contas, como diria o cirurgião plástico do Coringa: “se é pra ir, que seja com um sorriso no rosto”.
Saí do SPA me sentindo uma geleia de tão zen. Tinha esquecido por completo a história do furacão, porque na minha cabeça aquilo tudo era só “mídia”.

E foi naquela noite que tivemos que acatar as regras do último boletim de informações, que ao invés de prever um furação previa uma tormenta, o que pra mim não fazia qualquer diferença, até perceber que a tormenta chegaria com bem menos força e que só traria água e vento forte, ao contrário do furacão, que traria vacas, carros, hotéis, turistas e nativos voando pelos ares, como no filme Twister.

Assim, nas doze badaladas notúrnicas tivemos que guardar todas as nossas coisas nas malas, colocá-las dentro da banheira, fechar a porta do banheiro, guardar documentos e passagens no cofre, vestir roupas leves (abrigos travestidos de pijamas), não beber mais do que 4 (quatro) latinhas de cerveja por quarto (alguém acabou se dando bem nessa parte) e levar travesseiros para o salão de eventos do hotel.

Nossa, aquilo me chateou de tal maneira porque já estava quase entrando em modo delta sono... jamais acordem uma leonina no meio da noite, ainda mais para trocar de ninho (nem que seja por causa de um "furacão", ora bolas). Mesmo assim eu não achava que teríamos que dormir fora do quarto, não via nenhuma necessidade pra isso. Eu realmente não tinha a menor noção do que estava acontecendo, ou do que podia acontecer.

Não foi permitido chegar na parte externa do hotel e nem se quiséssemos conseguiríamos, pois o vento e a chuva forte estavam em todos os cantos, produzindo sons mais assustadores do que Jason em "Sexta-feira13".


ao fundo dois seres humanos de capa de chuva amarela tentando cruzar o corredor
Todos os hóspedes foram alojados em pequenos colchões no salão de eventos, mesinhas intercaladas com água e no hall de entrada uma grande mesa com chás, cafés, biscoitos e outras guloseimas.


o auge do Rina
Depois de colocarem pra tocar “Imagine”, do John Lenon, e de um americano ao lado da gente comentar que com aquela música só cortando os pulsos, foi hora de me entregar ao sono profundo, pois eu já tinha visto tudo o que precisava para seguir adiante, fosse na vida real, fosse em um plano espiritual superior. Cancun, mar verde-água, furacão, resort com all inclusive, hóspedes alojados no salão de eventos do hotel, barulhos assustadores do lado de fora... ampf!

E depois daquela noite surreal acordamos com o barulho dos funcionários do hotel organizando o café da manhã no salão de eventos. Ao sair do “abrigo”, a surpresa. Sem feridos, sem estragos.



a nova cara do hotel após o Rina
E um novo dia se apresentou pra nós.
Como dizem os filósofos: “depois do vendaval, a calmaria”.


sem legenda
















Aí sim, férias merecidas.
Um mar de verdade.
Chocolate só em barra, pra saborear depois da janta.