quinta-feira, abril 03, 2003


Cinismo ou consciência da fraqueza humana?

Quem não guarda um sentimento ruim ou, como alguns podem preferir, uma sensação desconfortável por alguém? E vale ser por vizinho, dono da padaria, vendedora de loja, colega de trabalho, aquele amigo interesseiro, colega de colégio ou faculdade, enfim.
O negócio pode se tornar complicado quando a pessoa, nitidamente ou não, demonstra que guarda esse sentimento por nós. Às vezes é fácil lidar com esse tipo de pessoa: basta afastar-se do contato com ela, freqüentar lugares diversos, ser indiferente, ignorar. Mas, quando a outra pessoa deseja chamar atenção, aí as coisas complicam.

O assunto pode ser engraçado, se encarado com naturalidade.

Durante esses dias conversei com pessoas diferentes sobre a questão e obtive respostas significativas.
Infelizmente, no mundo em que vivemos hoje estamos rodeados por pessoas dissimuladas, falsas, arrogantes, petulantes, interesseiras e que são capazes de inventar as mentiras mais escabrosas - pelo simples prazer de ver o circo pegar fogo. Um exemplo de pessoa assim pode ser tirado do personagem "Bento Manoel" da minissérie "A Casa das Sete Mulheres". Quem nunca aí conheceu alguém do gênero, ou pior, já foi assim um dia, não teve (por sorte) contato com o mundo cruel lá fora.

Mas a pergunta é: COMO LIDAR COM ESSE TIPO DE PESSOA? Ser igualmente cínico, dissimulado?

Às vezes também lidamos com amigos que se dão com esse tipo de pessoa, e aí ficamos ouvindo: "O fulano é um falso, cínico, porque fez isso, disse aquilo, não agüento mais, blá blá blá". E aí surge aquele famoso pedido: "tu não vais mais falar com ele, né? Não, porque o fulano é a pessoa mais má que já conheci, olha tudo o que fez pra mim..."
Como proceder? Sim, porque muitas vezes o "pastel" não é conosco e somos obrigados a tomar uma atitude drástica, mesmo quando temos noção que aquela pessoa realmente é capaz de fazer qualquer coisa ruim, inclusive para nós. São coisas muito subjetivas, e há aquelas pessoas que se posicionam, com unhas e dentes, e há aquelas pessoas que ficam nas suas, só observando.

Infelizmente o ser humano é fraco ao ponto de não viver a sua individualidade como "ser único". Muitas vezes se torna o chamado "Maria vai com as outras", abstraindo para si todas as formas de agir e pensar de outra pessoa, que considera o melhor amigo - ou , a que se tem por exemplo. Tais pessoas vivem num mundo de faz de conta, onde, sem terem noção de seus atos, se tornam um reflexo das pessoas com quem convivem. Facilmente uma pessoa boa pode se tornar uma pessoa má, quando esta última exerce grande fascínio por ela. Mas, não há que se falar "Oh, pobrezinha, ela era tão boazinha, agora é culpa da fulaninha que a transformou assim...". Ninguém se transforma em outra pessoa se não quer. Exatamente por isso Deus nos deu a "consciência". Ela fala bem alto, só que muitas vezes fazemos de conta que não a ouvimos.

Na verdade, se cada um cuidasse de sua própria vida grande parte dos mal-entendidos não aconteceriam. Eu tenho uma teoria sobre as confusões no mundo: todas iniciam por um mal-entendido banal, quando não são criadas propositadamente para fazer maldade. Sim, impressionante que ainda existam pessoas que passam o dia inteiro arquitetando uma maneira de ferrar outra pessoa, ou, de usar do cinismo e dissimulação para conseguir o que busca. São tais pessoas que chamo de "fazidas".

E o mundo está cheio delas.

Quando adquirimos a consciência de que essas pessoas são muitas vezes frustadas pelo o que são ou pelo que fazem, que são seres fracos de caridade e bondade, que são seres que necessitam de ajuda (material e espiritual), que são seres tão medíocres capazes de tudo para chegar onde querem, não passamos a ignorá-los, mas devemos sim rezar por eles. Eles precisam de PERDÃO. E digo aqui que perdão não é esquecer, não confundam as coisas. Perdão é compreensão. Compreensão de que aquela pessoa é um ser hipócrita, cínico, interesseiro, buscando uma vantagem qualquer porque não conhece suas capacidades de chegar onde quer cuidando de sua própria vida, sem atingir ou ofender ninguém. É uma pessoa que não conhece o respeito pela vida, pelos outros porque vê em todo mundo um inimigo ou alguém que irá competir com ele no futuro. São pessoas que não sabem se doar sem esperar uma recompensa, pensam primeiro no que vão lucrar em determinada situação. São pessoas carentes de si mesmas, que para chamar a atenção utilizam-se das artimanhas do cinismo. No fundo, são pessoas que não vivenciaram um mundo “interno” de paz, de harmonia, de sinceridade e que estão, voluntariamente ou involuntariamente, vivendo num ciclo vicioso de maldade. Ciclo este que muitas vezes é difícil de sair, pois a pessoa tem que lidar com seu pior inimigo – si mesma. Onde terá que encarar de frente seus piores defeitos, compreender suas piores frustrações, acalmar suas desilusões e mais – ouvir sua própria consciência e fazer seu próprio julgamento. Processo árduo o doloroso.

E podemos enumerar vários tipos de pessoas assim: aquelas que, a princípio, parecem ser as pessoas mais queridas do mundo, super prestativas, amigas; outras são dissimuladas ao ponto de espalharem as mais escabrosas fofocas, de forma tão sutil que muitos não percebem a maldade do comentário e, que geram as maiores intrigas; outras se fazem de santinhas, desentendidas e pelas costas armam as maiores ciladas; e assim por diante.

E a grande questão dessa conversa toda é: quando lidamos com esse tipo de pessoas e nos permitimos até ajudá-las, estamos sendo cínicos ou temos consciência de que elas precisam de compreensão e exemplo? Às vezes é difícil separar o que seriam atitudes cínicas de atitudes humanas. A resposta está dentro de nós, na nossa intenção. Obviamente ninguém gosta de conviver com esse tipo de pessoas, mas quando for inevitável, devemos usar do nosso bom senso e mais: ser piedosos e caridosos. Difícil? Com certeza.

Aprendi algo com um professor que tive na faculdade. Um dia, quando ele ainda era estudante, ao tentar sempre impressionar seus professores e colegas, ele se deu conta que seus esforços nem sempre atingiam o objetivo almejado. E num momento de lucidez se deu conta que nem “Jesus Cristo” havia agradado todo mundo, acabando por ser crucificado por aquilo que acreditava. Todos sabem que Jesus Cristo nunca fez mal a ninguém, bem pelo contrário, tentou ao máximo passar os ensinamentos de bondade aos homens. É difícil acreditar que não possuam pessoas boas no mundo – certamente que existem. Nós mesmos, muitas vezes nos surpreendemos quando tomamos uma atitude honesta e sincera, quando poderíamos trapacear, mesmo que em pequenas e insignificantes coisas. Por que não agir sempre assim?
O negócio mesmo é busca entender esse tipo de pessoas, muitas vezes obcecadas pela materialidade da vida aqui na Terra. Pessoas, como por exemplo, George Bush. São pessoas que não tem noção de “vida”, de “harmonia”, de “paz”, de “alegria”, de “sinceridade”, de “respeito”.

Bem, e como lidar então com esse tipo de gente? A resposta é mais simples do que parece: NÃO FAÇAS AOS OUTROS AQUILO QUE NÃO GOSTARIAS QUE FIZESSEM PARA TI. Difícil mesmo é mudar nosso jeito de querer comandar tudo e todos, quando deveríamos estar trabalhando sobre nossos defeitos na tentativa de sermos mais humanos. Se cada um fizesse a sua parte, sem xeretear a vida dos outros, sem maledicência, sem maldade, sem egoísmo, podem apostar, um mundo melhor seria inevitável.



Um comentário:

Anônimo disse...

Puxa! Sou obrigada a conviver com uma pessoa cínica, que a principio se fazia se passar por coitadinha...e não é que eu cai nessa?!! A situação/relação passou por alguns processos e no final descobri que ela não querias minhas coisas e sim minha vida. Estar no meu lugar, ter minhas coisas e vivier a minha vida. Hoje pra mim,ela não passa de uma sonsa, dissimulada e com atitudes pervesa. E não sei o que fazer, pois faz as coisas parecendo tão inocente. Isso é monstruoso.