quarta-feira, maio 15, 2002
... lá vai então...
... a filosofia do domingo acontece frequentemente com muitas pessoas durante suas vidas... é acerca da facilidade que temos de nos apaixonar e nos entregar à pessoas que inventamos, criamos e recriamos a nosso modo. Falo daqueles momentos em que nos apaixonamos e só enxergamos as qualidades da pessoa... a medida que vamos fazendo parte do mundo dela e permitindo que ela faça parte do nosso mundo, observamos seus defeitos e cometemos outros tantos e, um deles, um dos mais cruéis, diga-se de passagem, é o fato de inventarmos a pessoa que amamos, sem nos darmos conta que na verdade não amamos aquela pessoa cheia de defeitos, mas sim um ser que mesmo imperfeito é tudo aquilo que idealizamos em alguém. Este é o pior dos piores erros que a maioria das pessoas cometem. Na verdade, estar em dúvida se gostamos ou não de alguém é saber, lá no fundo, que não amamos verdadeiramente aquela pessoa, e sim estamos apenas completamente apaixonada por ela. Desta forma, acabamos inventando um amor que existe por uma pessoa que inventamos... incrível, não? Em fato, é tudo fruto de nossa imaginação, de nossa frustação e da maneira como queremos que as coisas aconteçam em nossa vida, sem nos permitirmos observar, calmamente, que estamos inventando situações, pessoas e amores. Amar alguém não requer conhecimentos básicos, tipo cor preverida, prato predileto, programa na TV, filme, música... enfim, quando amamos alguém as coisas são simples e claras... é como amamos nosso cachorro (ou gato, para quem curte mais um felino)... gostamos de sua companhia dócil, gostamos de acariciá-lo, gostamos de suas brincadeiras infantis e sabemos que nada receberemos em troca, e o pior: sem jamais nos questionarmos se ele prefere ração ou comida caseira. Ele simplesmente está lá, todos os dias, muitas vezes mais disposto do que nós, mas o amamos mesmo assim, sem precisar sufocar, sem precisar inventá-lo, sem precisar tranformá-lo, e melhor, sem precisar MANIPULÁ-LO (embora muitos tentem fazer com que ele só cague e faça xixi no pátio do vizinho).
... e aproveitando a filosofia toda, que começou num domingo e acabou num amor por cachorros (realmente amo cachorros, hehehe), aqui deixo um pouco do que li a respeito daquela mania que muitas pessoas têm de querer manipular ou controlar as pessoas e as situações.
Os manipuladores de carteirinha (muita gente que anda por aí), por meio de uma simulação consciente, ou não, tentam forçar os eventos da vida a acontecer quando e como querem. O maior desatino deste tipinho de pessoas é que para dominar precisam, antes de tudo, viver distanciados de seus próprios sentimentos, que, acreditam, poderiam deixá-los vulneráveis diante dos outros (tolas, pois que a melhor coisa do mundo é justamente sentir e deixar fluir). Eles fazem o trabalho em segredo, usando técnicas de comando indiretas, passivas (realmente são pessoas muito espertinhas). Agem de maneira tão sutil, dócil e educada, que não são identificados como tais (hmmm, tem muita gente assim que conheço!). Alguns se utilizam de argumentos capciosos e aparentemente lógicos, que tornam suas idéias difíceis de ser questionadas (é como aquela história do especialista instântaneo em filosofia). São, na verdade, mais doentes, ou mais ignorantes de si mesmos do que propriamente maus. Na verdade, são pessoas inseguras que receiam ser manipuladas, obrigadas a fazer o que não desejam ou ficar sobrecarregadas com enormes responsabilidades (são, o que chamo, de FRACAS). Algumas de suas atitudes mentais são:
a) satisfazem suas necessidades de poder ou domínio por sentirem enorme vazio interior;
b) confirmam uma auto-imagem deficiente que idealizaram como maravilhosa;
c) fazem com que se sintam respeitados, para se protegerem de uma possível humilhação;
d) FORTALECEM SEU DESEJO DE IMPRESSIONAR TERCEIROS, POIS SE CONSIDERAM SOCIALMENTE INADEQUADOS;
e) têm medo de ser rejeitados, ridicularizados e pior: magoados.
A mais devastadora ilusão do ser humano é pensar que pode controlar a vida dos outros. Imposição é oposto da liberdade e extermina tanto a autonomia do que domina como a do dominado. Ou seja, é um grande DESPERDÍCIO DE ENERGIA.
Por isso, devemos ter cuidado com os nossos amores inventados: quando delegamos o controle de nós mesmos a uma outra criatura, seja ela quem for (até mesmo se for nosso cachorro, que provavelmente nos fará ficar pulando e correndo atrás de bolas de tênis), talvez estejamos renunciando ao nosso mais importante direito inato (que vem expresso inclusive em nossa Carta Magna): a LIBERDADE. Ela pressupõe senso de DIGNIDADE (que não adianta, não tem preço que pague-se por esta), ESCOLHA e AUTO-RESPEITO. Sem senso de valorização próprio, nos julgaremos uma nulidade (ou seja, uma bosta humana) e sentiremos um grande vazio na alma.
E, para encerrar, como de costume, deixo aqui uma frase de um dos mais ilustres poetas e escritores frânces do séc. XIX, VICTOR MARIE HUGO:
" O pior uso que se pode fazer da liberdade é abdicar dela."
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