terça-feira, dezembro 23, 2008

Antes que o tempo voe...

Antes que o tempo voe nesse fim de ano, com suas calçadas cheias de pessoas com presentes nas mãos, com sonhos ainda por realizar, com casas, janelas e portas decoradas para o Natal, com os últimos preparativos para as milhares de ceias que acontecerão, com a correria de última hora daqueles que ainda não compraram suas lembrancinhas, antes que tudo isso passe e já seja 2009, quero desejar uma alegre e divertida noite de Natal, repleta de saúde, amor e muito carinho entre todos, estejam onde estiverem.

Cada um teve a sua história em 2008: conquistas, derrotas, alegrias, tristezas, esperanças, mudanças, poesias, músicas e danças.

Assim, que tenhamos fôlego para 2009, pois o futuro... ah, o futuro...

"E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá..."

(Toquinho, Aquarela)

terça-feira, novembro 18, 2008

Como você está carregando a sua cruz?



(Deus, está tão pesado...
Por favor, corte um pouco...)




(Deus, por favor, corte um pouquinho mais...
Eu serei capaz de carregar melhor...)


(Deus, muito obrigado...)


(Hein?)

(Vamos usar isto como uma ponte e atravessar...)

(Ahh! É muito pequena, eu não consigo atravessar...)

quarta-feira, outubro 22, 2008

E neste dia tão especial...



Além de desejar um bláh de coisas boas, deixo-te com


este beijo afável


e com


este abraço acarinhado,

de momentos que fazem da gente pessoas de outro planeta.


Amo-te, meu francês.
Para alguém especial que adora gatos... e adora bolos também...

sexta-feira, outubro 17, 2008


Relembrar é viver...



(placar do último Grenal)

Na dúvida, não ultrapasse

Viver em grandes centros urbanos requer um curso expressivo quanto às regras do trânsito de pedestres, do qual só se cola grau andando pelas ruas abarratodas de pessoas. O caminho se faz ao caminhar, como já diria o poeta.

Os transeuntes vêm e vão de vários lugares, desembocam em guetos, galerias, surgem de portais no meio da rua, carregam pastas, livros, lanches, compras, papéis, processos e, em dias de chuva, as famosas sombrinhas (no caso das mulheres) ou os guarda-chuvas (no caso dos Homens, com "h" maiúsculo).

A dica, nos dias de pingos ou enxurradas de H²O vindo dos céus, é ficar alerta.

Não basta apenas saber conduzir a sua sombrinha ou o seu guarda-chuva, driblando pessoas aqui e ali, se escondendo das gotas frias naquele pequeno – ou grande - raio de proteção (vide verdadeiros guarda-sóis que andam na moda), pois, independente do tamanho de seu "veículo", é preciso ficar de olho – literalmente – bem aberto ou, ao tentar manter a sua integridade física, mantê-lo bem fechado, salvando-se de uma "guarda-chuvada" qualquer, de um transeunte nem um pouco preocupado com a segurança alheia.

Outro dia, em direção ao trabalho, após vários alertas que recebi em casa, percebi o quão selvagem o centro urbano porto-alegrense se torna quando está chovendo. Na verdade, todos os centros urbanos de capitais são perigosíssimos, não falo em termos de criminalidade, mas em termos de hábitos pessoais ao transitar calçadas (e até mesmo ruas)...

Aqui, por exemplo, são filas indianas que se formam para aguardar o ônibus; comerciantes ambulantes que ocupam esquinas, vendendo das mais variadas esquisitices; muambeiros que não se preocupam em estragar suas "mercadorias" ao baterem suas sacolas contra as pessoas que caminham no sentido oposto; os apressadinhos, que saem atrasados de casa e tentam passar por cima de todas as pessoas que estiverem impedindo a sua passagem; etc. e tal.

Agora imaginem essa cena quando tem chuva!

São milhares de "fura-olho", das mais variadas espécies e cores, trepidando pra lá e pra cá, sem regras, sem paradeiros, sem qualquer consideração com a visão alheia.

Felizes os cegos e os demais deficientes, os quais são respeitados sem qualquer "puxada-de-orelha" (ou seria "puxada-de-olho") alheia.

sexta-feira, setembro 19, 2008

A despedida

Difícil escrever sobre despedida quando ela ainda de fato não aconteceu, mas se sabe que está iminente (escrevo este post um pouco antes da minha partida).

Sim, vou-me embora para a capital, minha terra natal.
Mas não pensem que deixarei assim, a esmo, a cidade das cucas.

No decorrer da minha caminhada, aos poucos fui me deixando levar pelas ruas, pelas árvores, pelas cores, pelos sons, pelos sorrisos, pelos olhares, pelo trabalho, pelas pessoas que cruzaram a minha vida nesta encantadora cidade.

Surpresas também aconteceram: reencontrar uma “amiga de infância” assim, do nada, é muito intrigante... coisas do destino.

É certo que pessoas vêm e vão.

E mais certo ainda é que existem pessoas que ficam marcadas, que conseguem coexistir com a distância, com a ausência, com a falta do outro (talvez isso seja um fenômeno sobrenatural a ser estudado pelo JP nas aulas de quinta...).

Não tenho palavras para descrever a beleza e a alegria que foi conviver com essa gente amiga, leal e dedicada que encontrei.

A pizza caseira da Aline, os almoços que filei na Cléo, as jantas na Li, as caronas da Deni, o dialeto jedi com a pequena Malu, as longas histórias contadas pela Agente Vaveka na hora do rango, os tropeços e folias do Agente Déca no Gigas, a boa risada do Edu...

Sim senhores (parafraseando o Zé), vocês são maravilhosos.
Fui muito feliz ao lado de cada um de vocês, tenham certeza disso.

E fiz muitas viagens através de vocês... fui até a capital argentina com uma família italiana, andei de motorhome pelos pampas gaúchos, fui até o topo da Torre Eiffel, conheci Fernando de Noronha, vi ets (sim senhor), praticamente dei a volta no mundo... e também vi tatuagem na boca (deusulaive), uia...

E por incrível que pareça, voltei a comer o feijão da Beata – o melhor feijão do mundo!

Também não dá para esquecer as histórias de gatos contadas pelo Patrick e pela Maria, as voltas de jeep com o Adilson (e eu me achando a sensação do pedaço...), o sotaque amigo do Murillo, os e-mails de piadas do Márcio, a festa de formatura do Linck...

Contem sempre comigo, para o que der e vier.
Nem que seja para cortar os cantos dos papéizinhos (lembrando que a Grace tem uma tesoura maravilhosa), ou colorir os recadinhos...

Na capital sempre terá um lugarzinho para vocês.
A propósito, aos colorados e coloradas (Fran, Vanessa e Grace) que aqui vierem para assistir ao campeão mundial, comuniquem-se. Pretendo ir a TODOS os jogos no Beira-rio daqui por diante. Ha!

E como diria o Juliano, é isso aí, people!

quarta-feira, setembro 17, 2008

Sobre o amor...



Norman Mailer certa vez escreveu: "As pessoas procuram o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade o amor é a recompensa por você ter resolvido os seus problemas".



E Martha Medeiros complementou: "É isso aí. Primeiro aprenda a administrar seus conflitos e tristezas, aceite suas oscilações de humor, busque a serenidade, fortaleça sua auto-estima e ampare-se em si próprio, sem se valer de bengalas emocionais. Aí sim, feito o dever de casa, seu prêmio estará a caminho".



Arrãm...

quinta-feira, agosto 28, 2008

211 coisas que uma garota esperta pode fazer

Depois de fazer cerão até às doze badaladas notúrnicas de ontem, a manhã começou movimentada, com vários afazeres pendentes, o que – para uma leonina com ascendente em capricórnio - é inadmissível.

Abri os olhos.
São 8h30min.

Meu Deus!
Tenho que arrumar a cama; escolher uma roupa para trabalhar, já que a ocasião formal do dia requer; resolver se lavo os cabelos ou não (para manter a juba quieta é necessário um pouco mais de creme de pentear... bem mais, diga-se de passagem); hummm, hoje é aniversário da Beth de Oxum, minha mãe, tenho que ligar cedo pra ela; tenho que tomar o meu nescau de todo dia; tenho que deixar o carro pra lavar; tenho que ir na livraria comprar uns livros para dar de presente... e, finalmente, tenho que chegar às 10h no trabalho, sem atrasos, por que comigo a pontualidade é britânica.

Estou na livraria.
Meu Deus – parte 2!
Esqueci que tenho esse problema com livrarias.
A minha vontade é de degustar todos os livros que aparecem pela frente, lê-los sem parar... olha esse aqui, lançamento, bah, e tem aquele lá... ai, ai, ai... vou ter uma confusão mental literária – preciso de 360 dias aqui dentro.

Hum, estou a procura de 3 livros diferentes ou de 1 livro que sirva para todas as presenteadas. São 3 amigas muito queridas, nascidas no melhor mês do ano, que me acompanharam numa fase mágica da vida: a faculdade.

Procurando aqui, procurando ali... que interessante esse título: “211 coisas que uma garota esperta pode fazer”...

Dou uma folhadinha.
Meu semblante sorri.
Sem me dar conta, caio em gargalhadas no meio da livraria:

Como Ser Completamente Deslumbrante: 17 usos para um pé de meia fina 7/8, como tirar suas sobrancelhas, como escolher o tamanho correto de sutiã, Guia Imelda Marcos de sapatos...”

Interessante.
Vejamos o que temos na outra página:

A Dona de Casa Perfeita: Como servir cerveja para um cavalheiro, como efetuar uma reverência, como preparar chá para um construtor...”

Não, não.
Não era bem isso que eu estava procurando.
Na próxima página...

Arrãm!
Super interessante!

Como Ser Má: Como manusear o chicote; dança do ventre e tudo que não te ensinaram na escola, mas você gostaria de ter aprendido...”

Preciso comprar esse livro pra mim.
Urgente.

- Vou querer levar 4 dessa obra, por favor.
Digo para o rapaz que me atende.

- Bah, infelizmente só temos uma obra, essa é a última.

Óh céus. Penso comigo mesma.
Uma das gurias precisa desse livro, mas para qual delas vou dar? Já sei: a que está solteira, ela vai precisar mais.

Minha nossa, já são 9h45min.
Tenho que me apressar para chegar no trabalho.
Fim da diversão da manhã.

Dica de leitura (imperdível):
211 coisas que uma garota esperta pode fazer
Bunty Cutler
Lorousse

quarta-feira, agosto 20, 2008

O melhor da terapia
(por Luiz Fernando Veríssimo)

"O melhor da terapia é ficar observando os meus colegas loucos.
Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou. Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas.


Confesso, como louco, que estou adorando estar louco semanal. O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silencio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.

Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um 'consultório médico', como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:

Na última quarta-feira, estávamos: (1) eu, (2) um crioulinho muito bem vestido, (3) um senhor de uns cinqüenta anos e (4) uma velha gorda. Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do princípio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.

(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do 'Harmonia do Samba'. Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro.
Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.


(3) E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos?
Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.


(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.

Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.

Conto para ele a minha 'viagem' na sala de espera. Ele ri, ri muito, o meu psicanalista, e diz:

(2) O Ditinho é o nosso office-boy.
(3) O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.
(4) E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.
E (1) você, não vai ter alta tão cedo..."

sexta-feira, agosto 15, 2008

Sobre aniversários, balões, chapeuzinhos e festas surpresas

O dia de aniversário pode ser, para alguns, apenas mais um dia em suas vidas, sem muitos encantos, a velha rotina se arrastando durante as 24h, as mesmas paisagens, os mesmos diálogos, etc.

Para outros, porém, e principalmente para os leoninos, o dia de aniversário é um dia especial, cheio de coisas boas e mágicas (branquinhos, negrinhos, cachorrinho-quente, presentes, família e amigos reunidos, etc), sendo que cada segundo a mais que percorre o relógio é mais um momento de vida, cheio de graça, poesia, aventura e descobertas.

Dentre as coisas mágicas, cite-se a típica festinha de criança, com direito a balões, chapeuzinhos e muitas surpresas. O que encanta de fato é aquele espírito de alegria, de confidência, de troca de sorrisos, brincadeiras, carinhos e muito amor. As crianças fazem isso muito bem e talvez nem se dêem conta do quão fantástico é essa troca, mas a maioria dos adultos não encontra mais graça nessas pequenas confraternizações.

A coisa mais fantástica que me aconteceu nessas últimas maravilhosas três décadas de vida em que me encontro (uia! Passa rápido!) foi uma festinha surpresa que algumas pessoas encantadoras me proporcionaram na última terça-feira.

Lembro que a última festa surpresa que recebi foi aos 14 anos e – meu Deus – é bom nem relembrar essa época, em que a minha peruca ocupava um espaço bem maior que o meu corpo todo... bons e velhos tempos do “Clube”, o famoso I.E. Assis Brasil.

O fato é que havia planejado uma terça-feira de aniversário muito zen, com direito à yoga depois do trabalho e uma noite relax... jamais imaginei que a minha noite acabaria com balões coloridos, chapeuzinho na cabeça, ao som da velha e tradicional cantiga de feliz aniversário, tudo isso regado de branquinhos, negrinhos, cachorrinhos, torta e muitos mimos de pessoas que amo pra xuxu.

Isso para mim foi o MELHOR presente que poderia ganhar.

Tudo bem que como discípula do Indiana Jones e do Macgyver, desconfiei de alguma coisa nos 45min do 2º tempo, mas só porque vi o carro da Mari estacionado em frente ao meu prédio... como assim o carro da Mari (placas de Gravataí, adesivo do Batuva) aqui na cidade das cucas? Pensei: “aí tem coisa!”.

Mas não imaginava que essa coisa (essa festa quase surpresa, digamos assim) tinha participações especiais da minha prima amada (Marianinha), das minhas amigonas do peito da cidade das cucas (Aline e Cléo) e dele – Mister Paul Renault.

Comemos e bebemoramos as minhas queridas três décadas até a 1h30min (noite super light...), demos muitas risadas relembrando os bons tempos do colégio, dos carnavais na praia do Cassino, dos encontros das desunidas e de todas as aventuras que ainda teremos pela frente, porque amigas como essas são para todo o sempre.

Aline, Cléo, Mari, Marianinha – amo muito vocês. Obrigada por me proporcionarem essa alegria fantástica! (mas da próxima vez escondam o carro na rua do lado... hehehe)

Paulsem palavras.


E que venham as próximas décadas!!!


P.S.: para a Vivi, Jô e Li, as quais não puderam fazer parte desse show - recebam o mesmo carinho, pois sei que vocês estavam presentes de coração.

quinta-feira, julho 17, 2008

Indiana Jones e a cerâmica de marajoara





Tinha tudo para ser uma quinta-feira como outra qualquer, a não ser pelo fato de que ela queria dormir um pouquinho mais e tinha que fazer uma ligação telefônica para os Estados Unidos.

Como de costume, e por ser um dos seus hobbies favoritos, ela se levantou e foi logo iniciando uma faxina na casa, depois de tomar seu café da manhã.
Lavou a louça do café, tirou o pó de seus poucos móveis, comprados com o fruto de seu trabalho, e varreu a casa, preparando o chão para o pano molhado.

Ela arredou a cama, equilibrou as cadeiras em cima do sofá e lá se foi, passando o pano aqui e acolá, ao som de Norah Jones, permitindo que seus pensamentos viajassem livres pelos arredores da casa.

Porém, aquela aparente tranqüilidade estava com os minutos contatos... assim que começou a passar o pano, percebeu que o pó ainda existente no chão começou, freneticamente, a se enrolar no próprio pano, ora ficando nos cantos das paredes, ora se desenrolando no chão...

Aquela situação de sujeira vem, sujeira vai, começou a irritá-la profundamente e, num momento de fúria, ela lançou o rodo com toda força no chão, no intuito de se livrar daquela poeira molhada, mas sem querer empurrou a mesa, que equilibrava um belo vaso de cerâmica de marajoara...

Naquele instante, foi como se o Indiana Jones tivesse tomado conta de seu espírito, e ao som do tã tã tã rã, tã tã tã, tã tã rã tã tã tã, ela empregou todos os seus esforços em direção ao vaso, que estava prestes a cair no chão e se quebrar em mil pedacinhos.

Durante a tentativa de chegar ao outro lado da mesa e salvar a cerâmica de marajoara, eis que ela escorregou no chão molhado, tropeçou o cotovelo esquerdo na mesa e, quando já não tinha mais esperanças de salvar aquela relíquia, adquiriu forças sobrenaturais e, enfim, agarrou com toda a proesa de uma aventureira, aquele patrimônio histórico e cultural, recentemente trazido do Pará.

Com o vaso - e o coração - na mão, respiração ofegante, chão molhado, cotovelo latejando, ela pensa: “definitivamente colocarei em pauta a possibilidade de contratar uma faxineira, caso contrário, irei ligar para o George Lucas e ver se tem lugar pra mim no Indiana Jones 5”.


E chega de emoções fortes por hoje.

sexta-feira, julho 11, 2008

Satiagraha, Gandhi & George Orwell

O artigo abaixo, de autoria de Douglas Fischer, Procurador Regional da República na 4ª Região (Porto Alegre), sob o título "George Orwell salvou Dantas?", trata da decisão do Supremo Tribunal Federal que determinou a soltura do banqueiro Daniel Dantas.

Manhã do dia 10 de julho de 2008. Manchete do jornal: “Supremo manda polícia soltar banqueiro Dantas”. Voltarei ao tema. Preciso antes compartilhar outros fatos com o leitor.
Atuando num processo ano passado, com réu condenado, vi uma colega Procuradora da República recorrendo para absolver um réu acusado de pequeno tráfico de entorpecentes (ela o havia denunciado, mas concluiu não haver provas para a condenação no curso da ação). Sim, leitor, o MP deve atuar em favor do réu também se assim entender. É o que determina a Constituição. Dei parecer favorável. A condenação foi mantida.

Não discuto aqui a decisão que manteve a condenação: há se respeitar o entendimento do Poder Judiciário. Mas eu recorri a favor do réu ao STJ. O recurso foi admitido. Contudo, demora. Como demora. Porque ainda preso o réu, resolvi entrar também com um habeas corpus a favor dele no STJ (sim, leitor, o MP também pode entrar com habeas corpus a favor de réu para beneficiá-lo).

Eu entendia que sua prisão (já há quase 2 anos) não tinha fundamento jurídico (até porque o MP recorrera pedindo sua absolvição). A liminar foi indeferida. Passaram-se mais alguns meses.

No interregno, Natal, final de ano, férias, praia para alguns. Para outros, sol – quando muito – “quadrado”. Invocando precedente do próprio STF (aquele que serviu para a soltura de Flávio Maluf e, depois, de seu pai, Paulo), “ousei” impetrar um novo habeas corpus, agora no STF. Isso já era março de 2008. Havia pedido liminar para a soltura do réu. Nada. Pedi novamente a concessão da liminar. Nada. Em 20 de junho (mais de três meses depois) sai finalmente a decisão do relator: o habeas corpus é indeferido de plano. O argumento: não haveria a flagrante ilegalidade e o outro hábeas, aquele perante o STJ, estaria para ser julgado em breve. Ah, bom!

Daniel Dantas havia ajuizado um habeas corpus contra a investigação que se fazia contra ele no TRF em São Paulo. Queria um salvo-conduto, como se fala no juridiquês. Não ganhou a liminar. Impetrou outro habeas no STJ. Não ganhou novamente a liminar. Foi ao STF. Mais uma vez, liminar indeferida. Aí vem sua prisão temporária, que o levou para o cárcere dois dias atrás.

Atente-se: o fundamento era novo porque havia um fato novo, que não era objeto do habeas então ajuizado. Em vez de impetrar (como seria o correto) novo habeas corpus no TRF em São Paulo, atacando a decisão do juiz que decretou sua prisão (art. 108, I, “d”, da Constituição), foi “direto” ao STF, pedindo ampliação do pedido do habeas que lá estava. Não podia. Hipótese “per saltum”, como também dito no juridiquês. Mas a liminar foi deferida, pouco mais de 24 horas depois da prisão.

Está solto, diz a manchete do jornal. Não há espaço para contra-argumentar o equívoco, em meu modesto juízo, da soltura de Dantas. Não contesto também, nem indiretamente (que fique em claro), a honorabilidade de quem o soltou. Longe disso.

Mas quem talvez não deva estar entendendo nada é aquele preso para quem impetrei os habeas corpus e que continua preso se souber da manchete dos jornais de hoje.

Diante de tudo, lembro de um dos mandamentos da sátira de George Orwel em sua Revolução dos Bichos: “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”.

Satiagraha (nome da Operação) define a linha de ação de Gandhi na sua luta pela independência da Índia (Gandhi e Orwell eram indianos, por coincidência).

Dantas é grato a seus advogados, certamente. Mas a estas alturas, por paradoxal que seja, já deve estar acendendo velas para George Orwell. Isso se o vento que corre solto no alto de sua cobertura na beira-mar do Rio de Janeiro permitir.


(Obs.: os verdadeiros parques de diversões no Brasil ficam em Brasília?)

quinta-feira, julho 10, 2008

A Disneylândia e os três patetas

Para os adolescentes, viajar com o papai e a mamãe pode ser uma tarefa árdua, chata e cansativa, pois na cabeça deles é um tempo perdido que poderia estar sendo gasto com os amigos ou, na melhor das hipóteses, com a internet.

No meu caso (tudo bem, já não sou mais adolescente, mas faz bem pouquinho tempo), viajar ao lado do Avo e da Beth é sempre uma aventura inusitada, repleta de gargalhadas e gafes, das quais eu não me privo por nada nesse mundo. É como estar contracenando no “Toma-lá-da-cá”, ou revivendo os melhores momentos do “Sai de Baixo” e da “Família Buscapé”.

E foi numa dessas comitivas familiares, em busca do visto americano, que eu, o Avo e a Beth nos deparamos com uma verdadeira Disneylândia em plena São Paulo, dentro do Consulado Americano.

Mas não, não encontramos Mickey Mouse, a Minnie ou a Cinderela cantarolando e caminhando dentre os mil e quinhentos brasileiros que passam diariamente pelo consulado, ansiosos por um “ok, you can pass”. Estávamos nós lá, os três patetas, gastando uma fortuna com passagem aérea, hotel e táxi, tudo para reviver o sonho brasileiro de passear pelos Estados Unidos novamente, algum dia desses.

O fato que nos comoveu em risos é que, quem conhece os parques da Disney, sabe que os seus corredores com vastos corrimões são hiper organizados com setas indicativas pintadas de amarelo no chão (nem cego se perde por lá), câmeras filmadoras por toda parte, guichês com vidros à prova de balas (lembrando que os maiores maníacos do mundo são americanos) e potentes microfones, atendentes very well qualificados e a certeza de que no final tudo se resume a um lanchinho no McDonald´s - ou seja, com exceção da inexistência de um point do Mc dentro do consulado, todo o resto é igualzinho aos parques da Disney, inclusive a sua participação (em dólar), toda especial...

Por outro lado, quem for ao Consulado Americano de São Paulo vai perceber que lá a hora marcada é respeitada, a fila é organizada de forma que cada um vai pulando de banquinho em banquinho até chegar a sua vez de ser chamado, num espaço freneticamente organizado para alocar muitas e muitas pessoas, mesmo que à primeira vista pareça que só cabem 20 pessoas. Mas como a movimentação diária é grande (em torno de 1500 pessoas por dia) e são apenas 87 funcionários no total (sendo que nem todos atendem ao público), prepare-se para iniciar a leitura dos famosos volumes de J. R. R. Tokien, J. K. Rowling, etc., ou se aventurar pelo maravilhoso mundo brasileiro, daqueles que sempre encontram um jeitinho de correr na frente dos outros e ainda reclamam da fila.

Dica: se tiver algum idoso na sua família, ou seja, alguém com mais de 60 anos, faça o pedido de visto em grupo familiar (todos da família são atendidos em conjunto), pois os idosos possuem preferência e lá isso é muito respeitado.

O mais divertido mesmo dessa aventura até o consulado foi a tentativa frustada, minha e do Avo, de conter as gafes da Beth em frente ao atendente americano.
Quem poderia imaginar que agora as digitais são colhidas de forma eletrônica e não mais com as pontas dos dedos pintadas? Ou seja, existe uma máquina em que tu deslizas os teus dedos e pressiona as pontas, quando então todas as luzinhas piscam, indicando que as tuas digitais foram “scaneadas”. Se uma das pontas dos dedos não está pressionada de acordo, uma das luzes não se acende, indicando que os mesmos devem ser pressionados novamente.

Eu e o Avo, prevendo que ficaríamos horas se a Beth fosse a primeira a “scanear” as digitais, a deixamos, propositadamente, para o fim da nossa fila privada (já que estávamos em grupo familiar).
Pois não é que o atendente chama ela primeiro...

Óh céus!

Eu e o Avo, depois de passarmos 2h explicando o funcionamento tecnológico da coisa (enquanto estávamos sentadinhos, aguardando sermos chamados), passamos por mais essa: quinze longos e demorados minutos, de muita tensão e riso contido (já que não podíamos, simplesmente, cair na gargalhada em frente ao atendente americano, o qual poderia não nos conceder o visto por debilóidice).


Enfim, nada como viajar com o Avo e Beth e conhecer o mundo fantástico das gargalhadas sem limites e das gafes, agora também internacionais!

quinta-feira, junho 12, 2008

Dia dos namorados? Quando?

Arram, talvez o post do dia 27/03 fosse suficiente para o dia de hoje, mas não podia segurá-lo por tanto tempo assim...

Mas assim óh, dia dos namorados é TODO DIA ÚTIL, FERIADO, SÁBADO e DOMINGO, desde que se esteja embaralhado por alguém que corresponde à altura.

Hummm, tipo assim...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses todo nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha...


(Florbela Espanca)

P.S.: devolvendo a poesia, com a mesma alegria.
Atualizações, hein?

Tá bem, eu confesso.
Enrolei, enrolei, enrolei e nada de blogar por aqui.
Mas vamos lá então.
Foram tantas coisas que aconteceram ao longo do tempo, após o último post, que nem sei por onde começar.

O fato é que pelas minhas andanças por aí, descobri dois lugares ímpares no Brasil, passíveis de visitação: Belém, no Pará, e Boa Vista, em Roraima. Nem vou falar na minha rápida passagem pela Venezuela, pois não encontrei nada de mais por lá... porém, qualquer indiada sempre é bem vida, ainda mais se está com os dois afilhados.

Belém é uma cidade úmida e quente, típica da região amazônica, localizada na Baía do Guajará, habitada por mais de 1 milhão e 400 mil pessoas. A capital é tão agitada como Porto Alegre, mas um pouco mais violenta, sendo que prepondera no povo de lá a mescla de várias etnias (resumindo: é índio misturado com todo mundo – japonês, alemão, inglês, grego...).

Lugares imperdíveis: Estação das Docas (porto às margens da Baía do Guajará – estilo porto da Av. Mauá, em Poa), Mercado Ver-o-peso (foto abaixo), Pólo Joalheiro, Mangal das Garças, Casa das 11 Janelas, Cerâmicas de Icoaraci,
Boteco Daqui (simpático barzinho local).





Por outro lado, Boa Vista, que fica lá no topo do mapa do Brasil, capital de Roraima (e não de Rondônia, como pensam alguns), localizada ao norte da linha do Equador, possui aproximadamente 250 mil habitantes. Sim, é uma capital pequena, pacata, nova e com planejamento urbano moderno, sendo que no princípio era habitada apenas por índios.

Lugares imperdíveis: Praça das Águas, Casa das 12 Portas (não é sacanagem não, em Belém encontrei a Casa das 11 Janelas e em Boa Vista essa aqui), Portal do Milênio, Monumento ao Garimpeiro (foto abaixo), Palácio da Cultura Nenê Macaggi, casa dos meus afilhados (diversão na certa).





A parte legal de viajar é sair de casa com a mente aberta a novas experiências, principalmente a novas culturas e gastronomia, a serem encontradas até mesmo dentro da mesma pátria.
As coisas que mais me chamaram a atenção lá pra cima foram: a imensidão da Floresta Amazônica; os diversos tipos de sementes, frutas e peixes de água doce (imperdível também é comer caranguejo com farofa); e o fato de que os índios (aqueles que vivem pelados e pintados no meio da mata, que sobrevivem apenas da caça e das frutas e falam “uga uga”) quase não existem mais – o que existe são índios já brancos, vestidos, usando celulares, morando em casas de cimento e recebendo “cestas-básicas” do governo (essa, sem dúvida, foi a parte triste da viagem).


Mas nada como estar de volta ao solo gaúcho, comer um churrasco do Avo, um doce de Pelotas, uma cuca de Santa Cruz do Sul e me aquecer nos braços do meu amor.
Uia, tchê!

quinta-feira, março 27, 2008


TER OU NÃO TER NAMORADO??? EIS A QUESTÃO... (por Carlos Drummond de Andrade)


Quem não tem namorado é alguém que ficou de férias de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvens, guindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme e sua frio quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira; basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor; é que não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes; dois paqueras; um envolvimento e dois amantes; mesmo assim não tem um namorado.

Não tem namorado que não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria e drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem rasgada; de ânsia enorme de viajar para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarradinho, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos deles, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d´água, show de Milton Nascimento, bosques, temas de sonho, ou musical do metrô.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, que não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato do seu amado ser paquerado. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente, no fim de semana, na madrugada ou no meio dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pensando duzentos quilos de grilos e de medos, ponha a saia mais leve, aquela linda e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança, de alma escovada e coração estourado. Saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ame como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido;

ENLOU-CRESÇA.

terça-feira, março 11, 2008

O suntuoso GiganTHe...

Não, o post de hoje não irá retratar o glorioso GIGANTE DA BEIRA-RIO, palco de muitas emoções em 2006 e 2007 (Libertadores e Recopa – chorem gremistas), estádio inaugurado às margens do Rio Guaíba em 06 de abril de 1969 (tudo bem, sequer eu estava nos planos de nascimento naquela época).

Enfim, o GiganTHe a que me refiro é outro, bem mais pomposo (no que se refere à escrita do nome) e um tanto quanto hilário. Fica no interior do Vale do Rio Pardo, mais precisamente na cidade das cucas.
Quem nunca foi morre de vontade de ir; quem sempre vai, não recomenda, pois não quer ser pego no flagra dançando bailão com a atendente da loja de cosméticos, prima-irmã da vizinha de sua namorada...

Como exclamou um torpedo renaultiano: “Que saudades da vida no interior!

Pois então.
O lugar é muito mais fino e chique do que o nostálgico BEG (Bailão Estrela Gaúcha) – palco de muitos encontros camuflados após uma ida inocente ao Tulha nos domingos (quem nunca foi lá que atire a primeira pedra).
Frise-se que a decoração do GiganTHe é impecável: CDs pendurados no teto, os quais de quando em quando refletem as luzes coloridas do globo giratório... uma maravilha (quem teve essa [in]feliz idéia?)!

As pessoas que freqüentam o lugar são da mais baixa
à mais alta classe social da região: desde aquela atendente da loja de cosméticos até o empresário de sucesso do fumo – o que torna o lugar uma verdadeira arena democrática ("... do povo, para o povo").

Não importa o traje: calça semi-begue, tênis, sandália plataforma, mini-saia, salto alto, camisa de seda, camiseta de física, boné, terno, vestido longo – a moda é ser tu mesmo (ainda que vestindo roupa de marca que não passou no teste de qualidade, vendido no PO – Palácio de Ofertas).

O embalo da noite ficou por conta da famosa Banda “Brilha Som”, que tocou ssuccccéééssoss como (olhem que letras românticas e incríveis):

- “Cama Vazia” (... Mas esse orgulho bobo é mais forte e não vou te procurar/Preciso te esquecer e desse sonho acordar...);


- “Outdoor” (... Pega o telefone, liga pro seu homem, ele ainda te ama/Manda um recado num carro de som, reacenda essa chama/Escreve o nome dele num outdoor bem grande, te amo, te amo/Manda uma mensagem pro seu celular, você é um anjo...);

- “A Lua e a Noite” (... Mas voltei/Galera estou aqui de novo/Voltei pros braços do meu povo/Achei o rumo da estrada/Me encontrei/De volta estou pras madrugadas/Igual a lua e a noite/Que morrem sempre abraçadas);

- “Fica Comigo” (... Já faz tempo que gosto de você/Você é esnobe nem de mim quer saber/Fiquei na deprê, apaixonado por você...).

Tá bem, deu de breguice por hoje.
Quando vierem me visitar, prometo que incluo no pacote uma aventura no GiganTHe da cidade das cucas - imperdível diversão!

quinta-feira, março 06, 2008

Tropeços no trabalho – parte I (com adaptações)

Toc, toc, toc

- Com licença, Dra.
- Pode entrar.

O estagiário, bem apessoado, cabelinho bem cortado, vestindo calça Ellus e camiseta Coca-Cola, ingressa na sala de sua chefe, carregando uma dúvida, referente à tarefa anteriormente repassada a ele.
Educadamente, como forma de introduzir o problema, ele pergunta:

- Como está a senhora?

Calmamente, ela olha para ele (um rapaz de 1m86cm) e responde:

- Melhor agora...

Dois segundos de silêncio. Será que o estagiário ouvira bem?
Logo em seguida, a chefe completa:

- Melhor agora, que a dor do dente passou... qual é a dúvida?

O estagiário, depois de ficar rosado (por ter pensado bobagem), se embaralha com as palavras, mas mantém uma sutil cara de paisagem, como se nada, nada mesmo, tivesse passado por sua mente masculina.

Tropeços no trabalho – parte II

O funcionário responsável pelo cargo de motorista leva sua chefe até uma reunião de trabalho. No caminho, durante aquelas conversas banais de como está o tempo, será que o preço da maçã vai aumentar, já terminaram de construir aquele prédio da esquina, etc, a chefe comenta sua apertada agenda nas próximas semanas.

- Então, Dra., a senhora vai viajar bastante essa semana, não?
- Pois é, estou cheia de trabalho. Irei aqui, ali e acolá. Estou bem arrumada, não?

O motorista, natural de Goiás, dá uma olhada para sua chefe (de cima a baixo) e desabafa:

- Olha Dra., a senhora está muito bem com essa roupa, eu gostei.

Um pouco constrangida, mas sorrindo educadamente, a chefe fala:

- Estava me referindo a estar bem arrumada de tanto trabalho...

terça-feira, março 04, 2008

Boa noite, cinderela!

Quem não conhece pelo menos um famoso "conto-do-vigário"?
Bilhete premiado, moeda falsa, golpe do seguro, golpe do empréstimo, ou, simplesmente, o "boa noite, cinderela"...


Pois então...
No último sábado pude observar de perto como esses espertalhões agem no caso do "boa noite, cinderela".

Primeiro eles incentivam a moçoila - indefesa - a ingerir uma quantidade alta de bebida - a qual ela não está acostumada, por óbvio.
Depois, prometem que vão cuidar dela caso ela passe um pouquinho da conta, naquele sutil blá blá blá de "super proteção".
Por último, usam de um artifício ardil subliminar, que faz com que ela tenha a iniciativa de convidar o bandido para dançar uma música lenta... (há toda uma estratégia montada por trás)
E aí já viu, né.

Depois da música lenta, já era.
Não tem mais volta, nem com "desapagador" de memória do MIB.

Muito cuidado!!!

terça-feira, fevereiro 12, 2008


Refúgio a 300m

Os caminhos que percorro, de quando em quando, na estrada, mostram uma placa que diz assim: "Refúgio a 300m".
Será que o "refúgio" significa um local seguro para parar?

Estou tentando me refugiar em "A Náusea".
Meio paradoxo, mas...
O problema é que o tempo têm me roubado esses momentos de refúgio!

"A Náusea" é o primeiro romance de Jean-Paul Sartre, um dos maiores escritores do séc. XX.
O livro conta a história de Antoine Roquentim, historiador de 35 anos que se refugia na província de Bouville para escrever a biografia do Marquês de Rollebon.
Dentre outros personagens há a figura de um autodidata, que se dedica a ler toda a biblioteca municipal, em ordem alfabética, por autores.
E claro, como todo romance há uma mulher, a Anny.


Às vezes a estrada toda podia ser um grande refúgio... que podia findar logo lá...




sexta-feira, janeiro 25, 2008


Tempo, tempo, tempo



24h não têm sido suficientes.
O tempo vem rasgando o som, manchando a cor, embaralhando o amor.
Atividades, pensamentos, sentimentos - todos comprometidos pela ausência do tempo.
E quem o organiza?
O relógio...?
Doce "tic tac" da vida, preso às horas, aos minutos, aos segundos.

Pessoas vêm e vão.
Deixam algo de si.
Levam um pouco de nós.

E como diz o poeta:
"Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!"

Organiza-se uma coisa aqui, pinta-se uma parede ali.
Desliga-se a TV, abre-se um livro.
Vive-se o amor, sonha-se acordado.

Para tudo um tempo.
Para sempre, cada dia.



domingo, janeiro 13, 2008

Cultura de botequim: os tropeços e enganos dos provérbios populares

Soa engraçado e fascinante, mas o telefone-sem-fio ao longo de muitos séculos conseguiu manter vivos muitos provérbios populares.
Tudo bem, nessa viagem intertemporal muita coisa se perdeu... e foi "recriada".
Nas andaças por esses botequins da vida acabamos aprendendo muitas coisas!
Por exemplo:

"Quem tem boca... vai a Roma..."
"Cuspido e escarrado..."

Quem nunca os ouviu por aí?
Pois então... estão certos ou estão errados?
Não se choquem... mas estão errados.

(tudo bem... eu confesso, um dia eu acreditei que eles estavam certos... mas não contem a ninguém!)

"Quem tem boca, vaia Roma..."
"Esculpido a carrara..."

E os significados?
Ah, teremos que continuar a discussão de botequim, no botequim... as interpretações foram as mais variadas e divertidas!

segunda-feira, janeiro 07, 2008


Feitoooo!!!



A um ausente
(Dedicado ao querido vô Oswaldo - 1 ano em outro plano astral)

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,

enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade


quinta-feira, janeiro 03, 2008

Sobre os ventos de ontem...

O ano de 2007 foi um importante ano na minha vida.
Sei que deixo pouco de mim pelo blog... algumas sensações, poesias, histórias, palavras soltas, sem muita cumplicidade.
É sempre importante registrar fatos, momentos, sentimentos - a vida em si.
O vento pode levar muita coisa, mas ele não consegue levar embora uma cena gravada no coração, uma gargalhada bem dada em reunião de família, um passeio pelas luzes do Natal de Gramado, uma visita silenciosa ao Templo Budista, um mergulho aventureiro durante um rafting.
Igualmente, o vento não pode levar uma última reunião anual de um quarteto fantástico, um beijo roubado, os pés tocando a areia macia de Garopaba, a doce brisa da Gamboa, as lembranças das aventuras de um ano que passou, os sonhos que se formam durante um espetáculo particular de fogos de artifícios.

Que os ventos de hoje e de amanhã sigam a iluminar e a emocionar o caminho a seguir.

O QUE O VENTO NÃO LEVOU (por Mário Quintana)

“No fim, tu hás de ver que as coisas mais leves são as
[únicas
que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...”